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    Marcos Troyjo

    Obama voltou?

    12/09/2014 02h00

    "Obama voltou!". Assim reagiram entusiastas do presidente americano quando na última quarta (10) realizou seu décimo discurso por rede nacional desde que foi despachar no Salão Oval, em 2009.

    Ao longo de 13 minutos, apresentou à opinião pública sua estratégia para conter –e destruir– o grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria.

    Ostentava semblante forte e presidencial. Trouxe à lembrança o vigor do jovem senador de Illinois que, na convenção que ungia John Kerry candidato à Casa Branca nas eleições de 2004, projetava o futuro do Partido Democrata.

    Aos simpáticos à política externa do presidente, a ação que se vislumbra contra o EI afigura resposta proporcional e coerente da Doutrina Obama à ameaça da sicária milícia.

    Em seu método há os elementos de tecnologia, baixo comprometimento de presença militar física e cooperação internacional.

    De fato, hoje há um "engarrafamento" de drones no Oriente Médio. Essas pequenas aeronaves não pilotadas mostraram-se de grande eficácia na vigilância e ataque a células itinerantes da Al Qaeda.

    São menos aplicáveis contra um grupo fortemente armado e que domina amplas áreas do Levante e do Iraque.

    É justamente por pensarem saber onde as unidades do EI se encontram que o Pentágono planeja intensificação de missões da força aérea contra o grupo, sem o acompanhamento paralelo de tropas dos EUA em solo.

    A ação no Iraque e na Síria contemplaria o envio de militares para se coordenarem com forças locais (sobretudo iraquianas). Obama não deseja que o contingente seja visto como força de combate, ou mesmo gestor de uma "tutela" como a que se seguiu à invasão de 2003.

    Obama faz o máximo para não caracterizar a iminente investida no Oriente Médio como mais um lance da "guerra ao terror". Aliás, não a chama de guerra. Prefere o eufemismo "ação contraterrorista".

    Ciente de como o apoio popular transformou-se em repúdio às guerras no Afeganistão e Iraque, Obama "terceirizará" o enfrentamento corpo a corpo.

    Isso caberá ao exército iraquiano, a outros Estados árabes e (nos sonhos de Obama) à oposição moderada na Síria –por esta antagonizar-se tanto ao EI quanto ao regime de Assad.

    Quanto à coalizão de nações, o secretário de Estado, John Kerry, encontra-se em interminável ponte aérea pelos países árabes. Convence-os a empunhar armas.

    Num marco mais amplo, Obama presidirá pessoalmente sessão do Conselho de Segurança da ONU nas próximas semanas. Será interessante acompanhar a reação de Rússia e China.

    Muito desse novo ativismo da política externa de Obama reage aos anseios de um público que quer dar o troco à decapitação midiatizada de jornalistas.

    Da mesma forma que herdou de Bush o fardo da guerra ao terror, Obama legará ao sucessor suas ações contra o EI.

    O problema é que, dadas a complexidade do Oriente Médio e a retração das forças dos EUA na região em tempos recentes, responder apenas pontualmente à barbárie pode constituir uma daquelas boas intenções que costumam pavimentar o caminho ao inferno.

    marcos troyjo

    Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.

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