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    Marcos Troyjo

    Precisamos de mais cavalos de pau

    28/11/2014 02h00

    A nova equipe econômica quer dar um bem-vindo cavalo de pau nos números do governo. Projeta distância em relação ao experimentalismo recente.

    Fracassos e escândalos do atual padrão de economia política brasileira também podem ser bons professores –e incidentalmente ajudar o país na modernização do ambiente de negócios e na melhoria de suas relações internacionais.

    Será difícil para Dilma concentrar-se em tentativas cíclicas de promover crescimento por meio do apetite do mercado interno. Isso clama por mais comércio exterior.

    Sob maior escrutínio e a possibilidade de rebaixamento da classificação de crédito do país, há pouco espaço para o BNDES desempenhar papel na contabilidade criativa. Suas relações com o Tesouro Nacional serão aclaradas.

    Tampouco será possível ressuscitar o financiamento privilegiado de "campeões nacionais", que consumiu mais recursos públicos ao longo dos anos do que o Bolsa Família.

    A Petrobras, no centro do que parece o maior escândalo da história corporativa nacional, está combalida para instrumentalizar-se na continuação de uma política industrial "à Geisel".

    Com parca credibilidade e recursos reduzidos, é duro ser megaformadora de demanda e "grande timoneira" da reindustrialização.

    O esfriamento do mercado interno, o menor espaço de manobra para aventuras do BNDES e mesmo as agruras da Petrobras podem ser bênçãos disfarçadas. Convidam a mais ênfase na promoção de comércio, mais transparência, mais políticas horizontais, melhor governança, mais atitudes pró-capitalismo concorrencial.

    Restaurar confiança e entusiasmo exige, porém, mais do que chamar bons gerentes financeiros. O país é o menos aberto ao comércio e o que apresenta os menores níveis de poupança e investimento entre os dez maiores PIBs do mundo.

    Apesar do amplo potencial como economia criativa, o Brasil direciona só cerca de 1% do PIB à inovação. Seu empreendedorismo é constrangido pela vexatória 120ª posição no ranking do Banco Mundial que julga o ambiente de negócios em 189 países.

    Não há dúvida de que o segundo governo Dilma deve mover-se rapidamente de volta ao "tripé macroeconômico". Mas isso não basta. Precisamos de mais cavalos de pau.

    As prioridades do país são as reformas estruturais e, ao lado delas, a reorientação da política externa, sobretudo em matéria econômica. O Brasil deve negociar acordos de livre comércio dinâmicos –sem restrições impostas pelo Mercosul.

    A ineficácia do primeiro mandato é um pesado fardo sobre as perspectivas para o futuro próximo.

    As circunstâncias, no entanto, podem auxiliar na execução de uma política externa mais interdependente e na retomada do caminho das reformas. As chances dessa combinação virtuosa são pequenas, mas elas existem. Se materializadas, o Brasil experimentaria uma espécie de "efeito arco-íris".

    O impacto de ajustes, amargos e necessários, seria compensado pelo sentimento positivo de que o motor de crescimento do Brasil pode voltar a funcionar.

    marcos troyjo

    Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.

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