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    Maria Inês Dolci

    Quem não fiscaliza valet também deve responder por morte de jornalista

    06/11/2017 13h52

    Fabio Pagotto/Folhapress
    O manobrista suspeita de dirigir embriagado um carro de luxo Range Rover Evoque que bateu em um Chevrolet Onix, que fazia serviço de Uber. 05.11.2017 - O manobrista Renato Santos Bosco, de 28 anos, ficará preso preventivamente após provocar um acidente que matou jornalista paraense Thyago Gadelha Chaves, de 36 anos, e deixou outras duas pessoas feridas, uma delas em estado grave, na madrugada deste domingo (5) no Centro de São Paulo. O manobrista suspeita de dirigir embriagado um carro de luxo Range Rover Evoque que bateu em um Chevrolet Onix (foto), que fazia serviço de Uber. Foto Fabio Pagotto/Folhapress DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    Veículo que fazia serviço de Uber foi atingido por manobrista alcoolizado no centro de SP

    Os serviços de valet (manobrista) se multiplicaram ao longo dos anos, para comodidade de quem vai a bares, restaurantes, casas noturnas e de espetáculo. Neste sábado (4), porém, um manobrista da empresa White Service colidiu contra um carro a serviço da Uber e matou o jornalista Thyago Gadelha Chaves. Duas pessoas ficaram feridas.

    Causa revolta e preocupação o fato de o manobrista estar alcoolizado e perceber que um serviço desses não é devidamente fiscalizado.

    Uma pessoa que entrega seu carro em confiança a um manobrista deveria ficar tranquila de que o veículo será conduzido com cuidado, seguindo rigorosamente as leis de trânsito e a sinalização. Não é o que acontece inúmeras vezes.

    Não é incomum, ao trafegar pelas ruas das grandes cidades, que os condutores se deparem com veículos cruzando a rua na frente dos carros ou rodando de ré em busca de uma vaga junto ao meio-fio. Muitos consumidores pensam que pagam por um estacionamento, mas, na verdade, estão sujeitos a multas, porque os veículos são estacionados até em locais proibidos.

    A ânsia regulatória que quase acabou com os aplicativos de transporte, como Uber, Cabify e 99, se transforma em desleixo em casos como o das empresas de valet, bem como as de segurança e vigilância de fundo de quintal. Nessas situações, erram todos: prefeituras, por não fiscalizarem devidamente um serviço que ocorre em suas jurisdições, e empresas que, em algumas situações, contratam pelo preço, sem checar credenciais e histórico dos prestadores.

    Um manobrista que bebeu e matou em serviço deveria perder a habilitação para sempre, além de sofrer as consequências criminais de seu ato. Uma vida perdida é irrecuperável. De nada adianta os envolvidos emitirem notas oficiais dizendo lamentar o ocorrido e se comprometendo a arcar com os compromissos legais.

    Também não resolve dizer que o serviço era terceirizado. Quem contrata tem responsabilidade, sim. Deveria responder por suas escolhas, exceto em fatalidades, o que não parece ser o caso. O Código de Defesa do Consumidor estabelece a responsabilidade solidária na contratação do serviço. Todos têm de responder em caso de danos.

    Tirar uma vida por dirigir bêbado é homicídio doloso, aquele cometido intencionalmente. Infelizmente, há muitas ocorrências semelhantes em que o responsável é tratado com leniência.

    Que a Prefeitura Municipal de São Paulo e as das cidades brasileiras em que haja empresas de valet fiscalizem com rigor esses serviços. E que todos os responsáveis por crimes como este paguem muito caro por isso. Lamentavelmente, o jornalista perdeu a vida, mas tragédias semelhantes podem ser evitadas.

    Um recado às pessoas que saem para se divertir, principalmente à noite: como terão de pagar o valet, correndo o risco de se envolverem indiretamente em um acidente, serem multadas por estacionamento em local indevido e terem o carro roubado, e ainda não poderão consumir bebida alcoólica, o mais indicado é ir de táxi ou usar serviço de transporte por aplicativo.

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