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    Mariana Lajolo

    Quanto vale o Pan?

    10/07/2015 13h06

    A cerimônia de abertura do Pan de Toronto acontece nesta sexta (10). E, um dia depois, começa a avalanche de medalhas nos pescoços dos atletas brasileiros.

    Muitos ouros, histórias de superação, astros consagrados e, após duas semanas, aquela sensação de que somos potência esportiva: "Em 2016, ninguém segura o Brasil!"

    Não é bem assim. Ter um bom desempenho no Pan é mais ou menos como ver seu time ganhar o Estadual. Haverá festa, taça, você vai tirar sarro daquele colega mala que te aporrinhou o campeonato todo e sair na rua no dia seguinte com a camisa que estava guardada no fundo do armário, todo orgulhoso.

    Mas, no fim das contas, o título não significa que sua equipe estará entre as favoritas no Brasileiro. Empolgar-se demais com a conquista pode gerar uma grande frustração lá na frente.

    É assim com o Pan. No evento continental, o Brasil ganha mais de uma centena de medalhas. Em Guadalajara-2011, foram 141. No ano seguinte, na Olimpíada de Londres, 17 atletas subiram ao pódio. A diferença é muito grande.

    Então o Pan só serve para isso, vender ilusões? Nem sempre. É possível sair dali com muitos motivos para sorrir. Em alguns esportes, uma medalha pode representar a classificação antecipada para a Olimpíada, o que por si só já assegura um resto de ano mais tranquilo -patrocinadores se interessam muito mais por quem já tem o bilhete dos Jogos. Para muitas modalidades que não se destacam em nível mundial, é a chance de aparecer.

    Para o COB, o evento pode servir como um termômetro olímpico. O Pan é organizado como uma mini Olimpíada, por isso, pode ser uma espécie de laboratório onde se testam estratégias de treinamento, concentração, preparação psicológica, descanso. Resultados em mãos, é possível corrigir rumos para 2016.

    Os dirigentes também podem avaliar se estão fazendo as contas certas. A meta em Toronto é ser top 3 pelo total de medalhas. Nos últimos dois Pans, por esse critério, o Brasil foi o segundo colocado -contando as medalhas de ouro, porém, ficou atrás de EUA e Cuba.

    Mas o Canadá, em casa, promete sair do incômodo quarto lugar. A briga entre Brasil, Canadá e Cuba deve ser uma das mais acirradas de todos os tempos. Os EUA continuam favoritos, mesmo levando times B e C para boa parte das competições.

    Um deslize no Pan pode ligar um sinal de alerta para 2016. No Rio, o Brasil quer entrar pela primeira vez no grupo dos dez países que mais sobem ao pódio olímpico. A meta é ambiciosa: ao menos 27 medalhas.

    Conseguiremos? É viável, e o Pan pode ajudar a iluminar o caminho, mostrar defeitos e virtudes. Para isso, é preciso não se deslumbrar com resultados. Pan não é Olimpíada, e o Brasil ainda não é uma potência esportiva. O torneio vale muito. E também pode não valer nada.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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