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    Mariana Lajolo

    Problema de base

    25/09/2015 02h00

    O passado da seleção masculina de vôlei é brilhante. O presente está cheio de bons resultados, mas oscila em altos e baixos perigosos. Já do futuro não se sabe o que esperar.

    A falta de renovação do vôlei brasileiro foi um dos temas levantados por um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos. Na sabatina da Folha, nesta segunda-feira (21), Giba mostrou preocupação com as novas gerações que já desfilam em quadra agora e com as que ainda estão por vir.

    "O Brasil não tem uma hegemonia na base. Eles vão vir sem aquele crédito que a gente teve. Aprendemos embaixo. Chegamos no adulto, apanhamos, mas depois ganhamos. Viemos de berço vitorioso", disse o jogador.

    Sim, a geração de Giba teve um berço de ouro. Garotos que foram lapidados em seus clubes e ganharam rodagem nas seleções de base, com grandes resultados. Quando Giba e seus ex-companheiros chegaram à equipe adulta, já estavam acostumados a vencer. O ex-ponta, por exemplo, foi campeão mundial infanto-juvenil em 1993 e vice juvenil em 1995.

    Os títulos não vinham sozinhos, eram reflexo de uma geração homogênea, com diversos talentos sendo revelados e lapidados. Isso fez com que o técnico Bernardinho pudesse mexer em seus times sem perder qualidade. E os novatos que chegavam para renová-la também respondiam à altura.

    Foram três títulos mundiais e um ouro olímpico para a mais vitoriosa equipe do vôlei brasileiro.

    Quando se olha para os jogadores da base hoje, é difícil imaginar essa história se repetindo tão cedo. Os talentos não são tão mais abundantes, e isso tem se refletido nos resultados.

    Entre 1989 e 2003, a seleção infanto-juvenil conquistou seis títulos mundiais –Giba estava em um deles.

    Depois do vice de 2005, no entanto, a equipe se distanciou drasticamente do pódio. A melhor colocação foi o quinto lugar em 2013.

    Este cenário preocupa.

    Os times que disputam a Superliga têm usado cada vez menos jovens jogadores, atravancando uma renovação que antes acontecia de forma mais orgânica.

    A CBV organiza uma Liga Nacional para atletas com até 22 anos, torneio que ajuda a manter times ativos durante o ano e a revelar talentos. É uma medida. Mas é necessário fazer mais para que os clubes formem e possam usar esses jogadores. Cuidar da base é garantir que o vôlei brasileiro não perca o status que conquistou nos últimos anos.

    Giba disse que sua geração deixou um fardo muito pesado para o time atual. A equipe se cobra para repetir os feitos alcançados por campeões olímpicos e mundiais.

    Um time competitivo aguenta essa pressão. Mas como continuar nessa toada sem renovação, sem forjar e lapidar novos talentos? A base fez o Brasil ser também o país do vôlei. Agora, a mesma base pode fazer a nossa seleção deixar esse posto.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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