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    Mariana Lajolo

    Jovem gosta de esporte 'velho'?

    02/10/2015 02h00

    O comitê Olímpico Internacional, um respeitável senhor centenário, procura desesperadamente uma fórmula para conquistar os jovens. O temor pela queda de audiência da Olimpíada tem feito a entidade buscar alternativas que gerem apelo às novas gerações de espectadores.

    Os dirigentes querem dar ao jovem o que ele gosta. E, na visão deles, isso significa esportes radicais.

    A estratégia fica evidente na lista de modalidades que Tóquio deseja incluir nos Jogos-2020: skate, surfe e escalada –os japoneses também apresentaram os tradicionalíssimos beisebol/softbol e karatê, mas estes aí são paixões nacionais.

    Dar a estes esportes o carimbo olímpico, no entanto, não é tão simples. A Olimpíada tem um formato muito específico que precisa concretizar todos os desejos de quem paga boa parte da conta: a televisão.

    O presidente do COI, Thomas Bach, por exemplo, já afirmou que seria necessário mexer nas regras do skate, tornando-as mais palatáveis para um público mais amplo.

    O surfe precisaria de uma reformulação total. O ideal, aliás, seria sair de seu habitat e ser disputado em piscinas com ondas. Só assim quem transmite não correria o risco de ficar horas com surfistas sentados nas pranchas esperando as ondulações. Ou, pior, de ver os Jogos acabarem e a competição não acontecer por capricho na natureza.

    A inclusão desses esportes populares entre os jovens pode ajudar a rejuvenescer a audiência, mas a fórmula para atraí-los parece estar muito mais na maneira como você apresenta a Olimpíada do que no cardápio que ela oferece.

    Londres-2012 foi a primeira edição olímpica em muitos anos em que o COI viu seu público jovem crescer. E sem surfe, skate ou escalada.

    A arma foi deixar os Jogos disponíveis para o espectador onde e quando ele quisesse assistir. Como? Basta olhar para onde estão os olhos dos jovens hoje: a internet.

    A Grã-Bretanha fez a primeira cobertura digital da Olimpíada. Londres exibiu o evento ao público de uma nova maneira. Engajou ídolos locais e internacionais. Mostrou aos torcedores jovens como os esportes "velhos" podem ser legais. Mais: repetiu o sucesso na Paraolimpíada, que costuma ver uma queda de interesse do público.

    Os números impressionam.

    O canal do COI no YouTube teve 59,5 milhões de views. Se a cobertura de TV atingiu 3,6 bilhões de pessoas pelo mundo –índice semelhante a eventos anteriores–, a programação on-line e em mobiles adicionou mais 1,2 bilhão de espectadores.

    O COI, que antes proibia atletas de se manifestarem, liberou chats, fotos e posts nas redes sociais. Resultado: a página do Facebook ganhou 700 mil novos seguidores.

    A visão de que a juventude gosta só de esportes radicais é estereotipada. Esporte olímpico, qualquer um deles, pode atrair os jovens. Basta você saber falar com eles.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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