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    Mariana Lajolo

    Correr atrás do rabo

    09/10/2015 02h00

    Uma zebra que desbanca grandes favoritos, um desconhecido que chega ao pódio de repente, um atleta que estabelece uma supremacia inatingível. Resultados assim são fascinantes, criam lendas e são combustível para o esporte. Mas também podem ligar o sinal de alerta. Muitos são fruto de anos de trabalho duro e talento. Outros, no entanto, podem ter sido impulsionados por um ingrediente indigesto: o doping.

    Por mais que a tecnologia evolua e que o número de testes aumente, quando o assunto é combater a trapaça, o esporte ainda parece estar correndo atrás do próprio rabo.

    No ano passado, foram realizados 283.304 controles em todo o mundo, segundo a Wada (Agência Mundial Antidoping). Destes, 3.866 apresentaram algum tipo de substância proibida (1,36% do total). Em relação a 2013, foram 15 mil exames a mais, e o número de positivos caiu.

    Parece boa notícia. Mas ouvir o prognóstico da Wada à BBC pode fazer você passar a enxergar com outros olhos o que ocorre nas competições. Segundo a entidade, mais de 10% dos atletas trapaceiam.

    O futebol é o esporte que mais faz testes. Em 2014, 144 das 31.242 amostras (0,5%) apresentaram substâncias proibidas. Em números absolutos, o atletismo teve mais casos: 261 ou 1% do total de exames.

    O campeão de doping entre os esportes olímpicos foi o levantamento de peso, com 169 casos de 8.806 testes (1,9%). Não é difícil imaginar que atletas que precisam levantar centenas de quilos recorram a substâncias proibidas para aumentar a força, mas os dois esportes que aparecem logo abaixo surpreendem: hipismo (1,8% positivo) e golfe (1,6%).

    O alcance do combate antidoping depende da qualidade dos testes –há substâncias que não são detectadas com facilidade– e de quem os executa. O controle envolve diferentes agentes, e o empenho de cada um deles faz muita diferença.

    Um atleta pode ser testado no torneio local, por quem comanda o esporte em sua cidade ou seu país, e também por federações internacionais ou comitês olímpicos. Pode ainda ser surpreendido em casa por um teste da Wada ou da agência de controle antidoping de seu país.

    China e Rússia testaram mais de 12 mil atletas cada uma em 2014. Já a agência antidoping da Ucrânia fez só dois exames –um positivo.

    Não só atletas e técnicos são suspeitos de trapaças. Este ano, por exemplo, foi recheado de controvérsias. O "Sunday Times" revelou que a Iaaf, que controla o atletismo, teria acobertado milhares de casos entre 2001 e 2002 –146 medalhas olímpicas teriam sido obtidas ilegalmente. Uma TV alemã acusou dirigentes russos de criarem um esquema sistemático de dopagem.

    Aumentar o número de testes é importante, mas ainda há muitas pontas soltas neste controle. Se a Wada estiver certa, 10% dos atletas estão competindo sujos, e menos de 2% dos que são testados são pegos.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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