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    Mariana Lajolo

    Seleção pode mostrar que ginástica é, sim, coisa de homem

    23/10/2015 02h00

    Terminar um Campeonato Mundial em oitavo lugar parece um objetivo pouco ambicioso para qualquer atleta de elite. Mas não é para a seleção masculina de ginástica.

    Pódios são bem-vindos, claro. A prioridade, no entanto, não são eles. Terminar o torneio entre os oito primeiros significa um passo gigantesco, uma mudança de status, um atestado de que ginástica no Brasil agora é, sim, coisa de homem.

    E não estou falando do preconceito que sempre envolveu a modalidade e ainda castiga muitos atletas. O fato é que, em nível internacional, a ginástica brasileira vinha conquistado melhores desempenhos com as nossas mulheres.

    Durante um longo período houve um abismo gigantesco entre os resultados coletivos delas e os atingidos pelas equipes masculinas. Diego Hypólito foi, por anos, uma estrela solitária. Arthur Zanetti conquistou a inédita medalha de ouro olímpica, mas não tinha uma seleção a seu lado para dividir o feito.

    E é isso que o Brasil pode mudar a partir de domingo, na Escócia. Se terminar entre os oito primeiros –feito que já atingiu no Mundial passado–, classificará uma equipe completa para os Jogos do Rio, em 2016. Será a primeira participação de uma seleção masculina do país em Olimpíadas.

    Objetivo que as mulheres cumpriram há algum tempo. Em 2001, já estavam no Mundial como uma seleção. A participação por equipes nos Jogos começou em Atenas-2004 e continuou até Londres-2012.

    Resultados de uma era frutífera e polêmica, que contou com o trabalho do ucraniano Oleg Ostapenko e o esquema de seleção permanente, criticados por algumas atletas.

    Naqueles anos, Daiane dos Santos conquistou o inédito título mundial, e Daniele Hypólito e Jade Barbosa também chegaram ao pódio do evento. Faltou apenas a medalha olímpica, que escapou por alguns centímetros quando Daiane pisou fora do tablado na Grécia.

    Os homens vêm fazendo um trabalho mais silencioso. Treinando com seus técnicos, nos clubes, com objetivos próprios, eles foram crescendo aos poucos, mas sempre à sombra da equipe feminina.

    Arthur Zanetti diz que faltava aos atletas acreditar. E provavelmente sua medalha de ouro em 2012 tenha sido o principal motivo para que essa fé crescesse. Os ginastas saltaram do 13º lugar no Mundial de 2011 –melhor resultado até então– para o sexto posto no ano passado.

    E para garantir a classificação inédita à Olimpíada, a seleção masculina está até tirando o foco da conquista de medalhas.

    A comissão técnica optou por escalar como titulares ginastas mais generalistas, que se apresentam bem em todos os aparelhos. Diego Hypólito, especialista no solo e medalhista de bronze no último Mundial nesta prova, será reserva. Zanetti tem dado mais atenção aos treinos de solo e salto, embora tenha grandes chances de subir ao pódio nas argolas. Os escolhidos terão de suprir a ausência do mais completo ginasta brasileiro, Sergio Sasaki, que está lesionado.

    É uma decisão madura. Difícil imaginar que o Brasil deixe a Escócia de mãos abanando. Zanetti continua sendo grande favorito ao pódio em sua prova. Mas mesmo que isso não aconteça, a aposta não terá sido errada. Classificar a equipe masculina pela primeira vez aos Jogos Olímpicos é daquelas feitos que têm gosto de medalha.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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