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    Mariana Lajolo

    Triste número um

    30/10/2015 02h00

    14 anos. Foi o tempo que o Brasil esperou para atingir novamente o topo em um ranking mundial de tênis. Marcelo Melo aparecerá na semana que vem na primeira colocação da lista de duplas.

    O tenista disse em entrevista à Folha que esperava que seu feito não passasse despercebido. Não vai. Mas se anseia que a liderança na lista consiga transformar seu esporte no país, melhor se preparar para lidar com a frustração.

    O Brasil que não soube aproveitar a febre gerada por Gustavo Kuerten -o mais badalado tenista da história do país, que chegou à liderança do ranking mundial 14 anos atrás- parece não estar pronto também para capitalizar com Melo.

    Alguns resultados expressivos apareceram nas quadras nos últimos anos, mas nada que se compare aos feitos atingidos por Guga. E velhos vícios continuam a ser repetidos.

    O novo líder do ranking de duplas não tem o mesmo destaque nem o mesmo carisma de seu antecessor. Será difícil surgir um "novo Guga". Além disso, Melo joga duplas, disputa muito menos badalada dos que as partidas individuais. Suas exibições quase não passam na TV. No Brasil, ainda é um tenista pouco conhecido do grande público.

    Mas o principal problema não está no que acontece na quadra ou no glamour (ou falta de) das disputas.

    Na mesma semana em que o país ganhava motivos para comemorar com a liderança do ranking mundial, o TCU (Tribunal de Contas da União) aplicava multa no presidente da CBT, a confederação brasileira, por irregularidade no uso de verbas públicas. Mais: recomendava ao Ministério do Esporte, aos Correios e aos comitês olímpico e paraolímpico que tornassem mais rigorosas as fiscalizações dos recursos repassados à entidade.

    A mesma CBT acumula casos controversos. Um projeto visando a preparação dos tenistas para a Rio-2016, que contava com Guga e o técnico Larri Passos, durou apenas um ano e acabou sob suspeitas de irregularidades e com versões conflitantes sobre seu funcionamento após ter consumido R$ 2 milhões. Teliana Pereira, principal nome do tênis feminino do país, foi cortada do projeto e reclamou dos cartolas.

    O presidente da entidade, Jorge Lacerda Rosa, também já fez uma manobra do estatuto da CBT para conseguir uma nova reeleição.

    Curiosamente, ele chegou à presidência após a queda de Nelson Nastás, alvo de um movimento encampado também pelos tenistas que queriam derrubar o ex-mandatário e pediam a moralização da entidade.

    Hoje, apenas Thomaz Belucci está na lista dos 100 melhores tenistas do mundo -é o 39º. No fim da temporada de 2005, o Brasil também tinha um nome solitário neste grupo: Marcos Daniel, que aparecia na 94ª colocação.

    No ranking de duplas, além de Melo, aparecem nessa faixa seleta Bruno Soares (24º colocado nesta sexta-feira), André Sá (41º) e Marcelo Demoliner (76º).

    Na Olimpíada do Rio-2016, apenas os 56 primeiros do mundo garantem participação automática. O Brasil hoje tem apenas um jogador de simples nesta condição.

    Para transformar um esporte é preciso muito mais do que ter um número um. É necessário um sistema que funcione um prol de um objetivo coletivo. Guga se aposentou sem ver seu sucesso aproveitado. Melo, infelizmente, deve entender agora como ele se sentiu.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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