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    Mariana Lajolo

    Por que o esporte ainda tem medo de metas?

    01/01/2016 02h00

    O Brasil vai dar vexame em 2016? Esta foi a pergunta que mais ouvi entre uma fatia e outra de peru nos encontros de família no fim do ano. O trauma do 7 a 1 associado a uma falta de esperança no país fazem muitos duvidarem da capacidade dos atletas de chegarem a um bom resultado no Rio.

    O que piora ainda mais o cenário é a ausência de clareza do que podemos realmente esperar dos competidores. Mais: o que podemos cobrar deles.

    Dirigentes brasileiros, em sua maioria, fugiam das metas. Iam para competições sem tornar públicos os parâmetros a serem medidos. Mas foram forçados a mudar com o aporte bilionário de dinheiro público –e também privado– nos últimos anos. Quem investe agora quer saber o que receberá em troca.

    O COB estabeleceu um objetivo para a Olimpíada : figurar no top 10 do quadro de medalhas. Na conta dos cartolas, seriam necessárias entre 27 e 30 conquistas. Mas agora a entidade prefere não cravar esta meta específica de pódios.

    Em 2015, os brasileiros tiveram seu pior ano pós-Londres-2012 e não chegaram a 20 medalhas em Mundiais ou disputas equivalentes. Números que podem apontar para uma uma dificuldade maior na busca pelas 27 conquistas em 2016. Mas qual será o problema se errarmos este número?

    O judô é um dos esportes que evoluiu impondo objetivos ousados. O Pan de Toronto foi um exemplo. A modalidade não conseguiu medalhas em todas as categorias de peso como havia planejado. No Mundial de 2015, queria quatro ou cinco pódios. Passou em branco. Isso significa que o judô brasileiro é um fracasso? Não. Continua a ser uma potência, mas precisa reavaliar o trabalho feito.

    Em 2009, os judocas também haviam saído de mãos vazias do Mundial. Mas, nos anos seguintes, figuraram no pódio de todas as competições e ganharam quatro medalhas em Londres-2012, uma delas de ouro.

    Não há grandes problemas em tropeçar na meta desde que o tropeço resulte em mudanças e faça parte de um caminho para a evolução da base e da elite. E é justamente aí que 2016 pode representar um fracasso. Em muitas modalidades, o sucesso no Rio será fruto de esforços individuais ou daqueles concentrados só para sair bem na foto em casa.

    Para alguns esportes, não chegar ao pódio será um retrocesso. Para outros, uma final ou a vitória em um mísero jogo representarão o mesmo que subir ao pódio. É preciso ter clareza dessas diferenças para avaliar se o dinheiro investido rendeu mesmo bons resultados.

    Entre 2010 e 2014, foram despendidos cerca de R$ 7,7 bilhões no esporte. E muitas modalidades ainda patinam nos resultados e na administração da verba. Segundo levantamento publicado pela Folha, 12 das 27 confederações olímpicas terminaram 2014 no vermelho.

    Um temor compartilhado por muitos que trabalham no dia a dia do esporte é o de que o esforço e os investimentos minguem após 2016. Que o Brasil atinja a meta no Rio –tem todas as condições para isso–, mas volte para trás após os Jogos.

    Chegar ao top 10, conquistar 30 medalhas, obter a melhor campanha de todos os tempos. Todos estes feitos serão muito importantes e ajudarão a manter o esporte brasileiro em evidência. Mas só saberemos mesmo se a meta foi atingida em 2020. O que faremos fora de casa mostrará que lugar de fato ocupamos no mundo.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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