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    Mariana Lajolo

    Duelos particulares do judô destroem sonhos, mas erguem time forte

    12/02/2016 02h00

    Manter uma tradição familiar. Essa é a ambição que guia os golpes de David Moura. Filho de judoca, o atleta sempre sonhou repetir os feitos do pai. No ano passado, finalmente atingiu seu objetivo. Campeão sul-americano, igualou a conquista do homem que sempre o inspirou.

    Depois, superou seu legado.

    Moura ganhou o ouro no Pan de Toronto, 40 anos depois de Fenellon Oscar Muller ter colocado o bronze na galeria da família.

    O filho agora pode ir além. Ele lidera a briga pela vaga olímpica entre os pesos pesados (mais de 100 kg) e pode chegar aos Jogos do Rio com chances de disputar uma medalha –no fim de semana passado, foi bronze no Grand Slam de Paris.

    Seria o fechamento apoteótico de uma bela saga familiar. Mas também um triste baque em outra bonita carreira construída nos tatames.

    Enquanto Moura subia no ranking, Rafael Silva, o Baby, se recuperava de lesão que o deixou afastado por sete meses. Bronze em Londres-2012, ele corre contra o tempo para tentar chegar à Olimpíada. Só um dos dois conseguirá a vaga.

    O duelo entre Moura e Baby é um exemplo do quão emocionante, acirrada e também cruel é a disputa pelas vagas no judô. O esporte é tido como carro-chefe na busca pelo top 10 no quadro de medalhas.

    O Brasil, país-sede, vai lutar em todas as categorias de peso –14, sete de cada sexo. Os atletas vêm disputando diversas competições e quem estiver mais bem colocado no ranking até maio deve ser chamado para a seleção. Nem Sarah Menezes, única campeã olímpica do país em Londres, tem vaga certa.

    Em cada uma dessas disputas aparecem histórias que revelam o quão dura é a ideia de que apenas um judoca pode ir aos Jogos.

    Duas vezes medalhista (2000 e 2008), Tiago Camilo, 33, sonha fazer no Rio sua despedida olímpica. Será a última chance de se tornar o único judoca do país a conquistar medalha em três edições dos Jogos, feito que deixou escapar em 2012.

    Para isso, terá de superar Eduardo Bettoni (até 90 kg), jovem que despontou aos 22 anos no Mundial por equipes de Salvador, em 2012, quando herdou a árdua missão de substituir Camilo e ajudou o Brasil a ganhar o bronze.

    Leandro Guilheiro, dois bronzes olímpicos, tenta escrever sua história de superação apos passar por cirurgias e ficar dois anos afastado. Aos 32 anos, tem como rival o jovem Victor Penalber, 25, também em busca de sua volta por cima.

    Penalber foi flagrado em teste antidoping em 2008. Diz ter usado diuréticos para perder peso às vésperas de um Mundial. Após dois anos de suspensão, voltou a mostrar porque era considerado um dos mais promissores judocas do país. Desde então, tem mostrado resultados superiores aos do veterano.

    A disputa acirrada pelas vagas deixará muita decepção pelo caminho. Mas é bom sinal. Quanto mais judocas competitivos, mais cresce o esporte. A rivalidade impulsiona os atletas e os desafia. Ter grandes rivais em casa ajuda na preparação para encarar adversários de fora.

    Até maio, judocas importantes terão ficado para trás, novatos perderão sua primeira grande chance. Será difícil e, às vezes, cruel.

    Mas atletas competentes também terão conquistado suas vagas, mostrado superação, regularidade e qualidade para buscar uma medalha. Seja qual for o resultado final, a equipe brasileira já sai ganhando.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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