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    Mariana Lajolo

    Aos 94 anos, americano ampliará recorde na Olimpíada do Rio

    19/02/2016 02h00

    Harry Nelson tem se preparado como poucos para a Olimpíada. Todos os dias sai de casa para seu treinamento. Quer se manter em forma, continuar firme. No Rio de Janeiro, irá acrescentar mais uma edição a sua longa lista de Jogos Olímpicos. Ninguém foi tantas vezes ao evento quanto ele.

    A tal rígida preparação são caminhadas que este norte-americano faz todos os dias. Nelson não é um atleta, mas o que seus olhos viram nos últimos 84 anos valem como uma medalha de ouro.

    Ele já assistiu a 18 Olimpíadas e, graças a essas viagens, conheceu 103 países. A saga começou quando tinha apenas 10 anos, e os Jogos chegaram ao quintal de casa, em Los Angeles, em 1932. A mãe de Nelson não queria que os filhos perdessem aquela oportunidade e conseguiu ingressos para o hipismo. O garoto ainda pôde assistir de graça à passagem dos maratonistas pela rua. O encantamento foi instantâneo.

    O início das viagens que o colocaram no "Livro dos Recordes", no entanto, só aconteceu 16 anos depois, quando um amigo o convenceu a ir a Londres, em 1948. Ele vendeu um carro e usou US$ 600 dados por um tio. Começava ali sua aventura.

    Reprodução/Youtube/Guinness World Records
    Harry Nelson já assistiu a 18 Olimpíadas
    Harry Nelson já assistiu a 18 Olimpíadas

    Apaixonado por atletismo desde a universidade, Nelson sempre procurou os ingressos para as provas da modalidade. E presenciou momentos históricos, até hoje vivos em sua memória.

    Ele estava no estádio quando Tommie Smith e John Carlos fizeram o gesto dos Panteras Negras no pódio dos 200 m rasos na Cidade do México, em 1968. Também se impressionou com Emil Zatopek vencendo os 5.000 m, 10.000 m e a maratona em Helsinque-1952. Quando viu o tcheco desgarrar do pelotão logo nos primeiros 20 metros da prova de 10.000 m, ele apostou com um amigo que o corredor não aguentaria. Perdeu feio.

    Em 1988, o norte-americano assistiu em Seul à incrível vitória de Ben Johnson nos 100 m rasos, com direito a quebra do recorde mundial –9s79. Mais tarde, o mundo ficaria sabendo do que Nelson e seus amigos haviam suspeitado logo após o fim da corrida naquele dia em Seul: o corredor estava dopado. Foi mais legal aplaudir Jim Hines correr pela primeira vez os 100 m abaixo dos 10 segundos, em 1968, e Usail Bolt dar seu show em Pequim-2008.

    Nem na lua-de-mel Nelson deixou de lado sua paixão pelos Jogos. Em Melbourne-1956, embarcou com Dee, sua mulher, para a primeira viagem olímpica do casal. Ela se tornou companhia em quase todas as edições, assim como amigos que passaram a dividir com eles o prazer de assistir a Olimpíadas.

    Muitas destas memórias foram gravadas em filme, com uma câmera que uma tia deu a ele. São registros raros, não só das competições, mas também dos torcedores e das transformações pelas quais os Jogos passaram ao longo do anos.

    O Rio de Janeiro será a última parada desta jornada. Nelson e Dee já têm ingressos para três dias do atletismo e uma partida de vôlei masculino. Já ouviram falar do perigo da zika e estão na torcida para que o problema esteja resolvido até agosto. Por precaução, trarão muito repelente na bagagem.

    Mas nada tira o brilho dos olhos desse norte-americano. Por isso ele sai todos os dias de casa para caminhar. Quer estar pronto. Com os atletas que testemunhou ao longo da vida, aprendeu na prática o significado do lema dos Jogos: mais rápido, mais alto, mais forte. Aos 94 anos e às portas da 19ª Olimpíada, Nelson quer ser o que vai mais longe.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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