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    Mariana Lajolo

    Já imaginou ver Pacquiao lutar boxe na Olimpíada? Pode acontecer no Rio

    26/02/2016 02h00

    Esquiva Falcão carregava no peito um feito inédito, a prata nos Jogos de Londres. Era o primeiro brasileiro a chegar tão longe, um exemplo para outros boxeadores. Estava entre os melhores do mundo e tinha totais condições de buscar o ouro quatro anos depois, em casa. Mas não titubeou em abandonar o sonho olímpico.

    A explicação, simples, vinha acompanhada de um cifrão: só de assinar um contrato como profissional, ganharia muito mais do que como amador. Sem nem precisar calçar as luvas.

    O caso de Esquiva é só um exemplo do abismo que existe entre as realidades dos pugilistas profissionais e dos amadores. A diferença das regras já as separa, mas são o glamour e os ganhos que atraem boxeadores olímpicos para o profissionalismo.

    Não sem pagar um preço: ao assinar um contrato, o atleta diz adeus aos Jogos. A Olimpíada é aberta apenas a amadores.

    A distância entre esses dois mundos nos privou daquela que talvez fosse a maior luta de todos os tempos. O cubano Teófilo Stevenson, três vezes campeão olímpico (1972, 1976 e 1980), disse não a propostas para disputar um combate profissional. À época, Muhammad Ali era a grande estrela.

    O veto a profissionais já tirou grandes nomes do boxe da agenda dos Jogos. Agora, para que eles façam o caminho inverso, a Aiba (Associação Internacional de Boxe) estuda uma mudança radical, que pode valer já no Rio, em agosto.

    A entidade quer liberar profissionais para buscarem uma vaga no evento. Pode ser a chance de nomes como Wladimir Klitschko, peso-pesado ucraniano, e Manny Pacquiao, filipino campeão por oito categorias de pesos diferentes, colocarem uma medalha no peito.

    A iniciativa, que ainda precisa ser aprovada, visa atrair mais atenção ao boxe olímpico e foi impulsionada pela Agenda 2020 do COI (Comitê Olímpico Internacional). O documento –citado recentemente por tratar de formas de baratear e melhorar candidaturas olímpicas– recomenda a presença dos "melhores atletas" de uma modalidade nos Jogos.

    Esse não é o primeiro movimento da Aiba para aproximar amadores e profissionais. Os dirigentes já tiraram a palavra "amador" do título mundial dado pela entidade e criaram competições em que os atletas podem receber dinheiro para lutar.

    Também eliminaram os protetores de cabeça, um capacete acolchoado que ajudava o rosto do atleta a ser menos castigado nas lutas –no boxe profissional, ele não é usado– e mudaram as regras de pontuação, de modo a tornar o boxe olímpico mais agressivo.

    Uma regra de 2013 já permite que profissionais tentem lutar na Olimpíada, desde que provem não ter feito mais de 15 lutas pagas e assinem um contrato de curto prazo com a Aiba. Uma mudança neste ponto seria a última barreira derrubada para tornar o boxe nos Jogos totalmente aberto.

    Para lutar na Rio, no entanto, os profissionais teriam de passar ainda por uma seletiva da Aiba, o que pode inviabilizar a presença deles já em 2016. Se a medida for aprovada, continuará nas mãos das federações de cada país definir quem fará ou não parte das seleções que vão à Olimpíada.

    Seria difícil dizer não a Esquiva. Ou a Pacquiao. Atrair profissionais é uma cartada engenhosa para gerar mais atenção para o esporte olímpico. Resta saber qual será a resposta a essa mudança. Talvez, no futuro, não existam mais duas modalidades tão distantes, e boxe seja apenas boxe.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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