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    Mariana Lajolo

    Trintão, Phelps desafia o tempo por fim brilhante no Rio

    11/03/2016 02h00

    Michael Phelps está de volta. O velho Phelps, para ser bem precisa, não aquele que andava desfilando uma cara de tacho sempre que perdia uma prova na qual um dia havia sido soberano.

    Nesta semana, deu entrevistas para o mundo todo reforçando que venceu o inimigo que mais lhe atormentava: ele mesmo.

    O mais premiado atleta olímpico de todos os tempos está feliz. Dentro e fora da água. Quer vir aos Jogos Olímpicos do Rio para mostrar que ainda pode ser o nadador que assombrou as piscinas oito anos atrás. E, diante do primeiro filho, dizer adeus definitivamente. É o enredo perfeito. Mas conta com um antagonista perigoso: o tempo.

    Phelps é muito talentoso, o mais talentoso de todos, mas está ficando velho. É cruel, mas para um nadador, chegar à casa dos 30 anos significa começar a perceber sinais claros de decadência. Seu corpo já não responde mais como antes, não aguenta mais o que um dia fez com muita facilidade.

    O norte-americano chegará à Olimpíada do Rio com 31 anos. Desde 1968, apenas 17 atletas com essa idade ou mais buscaram finais das provas que ele costuma nadar.

    Pesquisas apontam que, dos 20 aos 30 anos, nadadores podem apresentar uma queda de rendimento de até 4 segundos em algumas provas, como os 200 m medley e os 200 m borboleta, especialidades de Phelps. Se seguisse essa curva, ele chegaria ao Rio com marcas que provavelmente não o levariam nem à final de suas disputas preferidas.

    Mas ele não segue estatísticas à risca. E basta olhar para o relógio para perceber isso.

    Está mais lento do que em relação a Pequim-2008 na maioria das provas, é verdade. Naquele ano, ganhou oito ouros e quebrou o recorde mundial de quatro provas individuais. Em 2015, apenas nos 100 m borboleta ele conseguiu superar o tempo obtido na Olimpíada chinesa.

    Mas na última temporada fez o suficiente para figurar no topo da lista das melhores performances. Suspenso por ter sido flagrado dirigindo bêbado, disputou o Campeonato Nacional dos EUA enquanto o mundo só tinha olhos para o Mundial de Kazan. E ofuscou a todos. Se estivesse na Rússia, Phelps teria vencido os 100 m e os 200 m borboleta e os 200 m medley. Foi o mais rápido do ano nas três distâncias.

    Ele continua veloz e talentoso. Mas essa não é sua única arma para brilhar no Rio. Conta também com os rivais. Natação é coisa de jovem, e nas principais provas de Phelps não apareceram novos talentos capazes de lhe ofuscar totalmente.

    O sul-africano Chad Le Clos o venceu em uma final em Londres. Mas, no ano passado, ficou atrás dos tempos do norte-americano. Mais: nos 200 m borboleta no Mundial, perdeu para Laszlo Cseh, que chegará aos Jogos com 30 anos.

    O húngaro faz parte de um seleto grupo que pode desafiar as estatísticas no Rio. Se decidir nadar os 200 m medley, terá a chance de protagonizar a quarta final olímpica seguida ao lado de Phelps, Thiago Pereira e Ryan Lochte. E todos já podem ser chamados de trintões.

    O melhor nadador de todos os tempos pode estar mais lento, mas seus adversários envelheceram junto dele. Ou melhor, atrás. E os jovens que surgiram ainda precisam provar que estão aptos a lhe roubar de vez o trono. O cenário atual mostra que não será tão difícil para Phelps escrever seu final feliz.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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