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    Mariana Lajolo

    Se considera que os atletas não estão aptos, COI deveria ter banido a Rússia

    29/07/2016 02h00

    "Oi, você é jornalista? Pode nos dar uma entrevista?".

    A abordagem da colega japonesa não foi surpresa. É muito comum repórteres de outros países procurarem jornalistas para entrevistas durante os Jogos Olímpicos. Principalmente os "da casa".

    Já estava me preparando para falar sobre problemas da Vila, violência, zika, samba, novela das oito quando ela emendou: "Queremos falar sobre doping da Rússia.

    Foi esse o mesmo tema que dominou a entrevista coletiva de atletas do hóquei sobre grama da Austrália. Iria roubar a cena se a reunião fosse para discutir qualquer outro assunto. É o assunto da Olimpíada até aqui —além dos cangurus e dos encanadores australianos.

    Uma das principais potências esportivas, econômicas e políticas do planeta está na mira de todos por conta do mais vergonhoso e absurdo escândalo de doping de todos os tempos. Corria o risco de não poder enviar nenhum atleta ao Rio. A maior parte da delegação, ainda em dúvida sobre seu futuro, chegaria sexta.

    Doping na Russia

    Já havia tomado um duro golpe antes por conta de outro caso, do atletismo, que levou ao banimento de toda a equipe que viria os Jogos, incluindo a estrela Ielena Isinbaieva, rival de Fabiana Murer no salto com vara.

    Vladimir Putin esbravejou, disse que a punição não é justa, é discriminatória e se trata de uma questão política.

    Para mostrar força, anunciou sua própria competição de atletismo, "Stars 2016", para os atletas que não poderão vir ao Rio.

    Terão os mesmos prêmios em dinheiro e benefícios de competidores olímpicos. Imagine a repercussão se os resultados lá forem melhores do que os daqui.

    O golpe do atletismo já tinha sido duro, até estourar o escândalo que mostrava o esquema de falsificação de resultados dos Jogos de Inverno de 2014.

    O caso envolvia a polícia russa e tinha no enredo até um buraco na parede por onde desaparecia a urina contaminada dos atletas.

    Doping em Sochi

    A Wada (Agência Mundial Antidoping) recomendou que toda a delegação russa fosse banida.

    O COI (Comitê Olímpico Internacional) se esquivou de certa forma. Definiu que os russos estavam aptos a competir, mas sob algumas condições. E abriu para as federações internacionais definirem sobre suas modalidades.

    Até a quinta-feira, dez entidades ainda tinham de dar resposta sobre seus esportes, uma semana antes da cerimônia de abertura.

    Deixar a decisão assim, "em aberto", tumultua os Jogos.

    Se considera que os atletas não estão aptos, o COI deveria simplesmente ter banido a Rússia.

    A mensagem contra o doping seria dura e precisa. Mas também puniria inocentes, que jamais usaram doping. Seria uma decisão questionável, mas clara.

    O doping não sobrevive apenas por esforços de atletas inescrupulosos. Os esquemas são construídos também com subornos, vistas grossas e conivência.

    Ao deixar a decisão para as federações, cria-se um impasse. Ficam atletas em casa, que não conseguiram a classificação, com a esperança de viajar para o Brasil. E russos no avião, com chances de ter de voltar.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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