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    Mariana Lajolo

    Mulher e cadeirante, iraniana busca medalha no tiro com arco

    08/08/2016 02h00

    Zahra Nemati entrou no estádio orgulhosa, como todos os outros 206 porta-bandeiras das delegações que desfilaram pela "Marquês de Sapucaí" montada em pleno Maracanã na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio.

    Carregava as cores do Irã, sorria, e liderava a equipe que vai disputar a Olimpíada.

    Zahra era mais uma ali em meio a milhares de atletas que compartilham sonhos e objetivos. Mas era a única que desfilava em uma cadeira de rodas.

    A iraniana era praticante de taekwondo, um dos esportes mais populares em seu país. Queria seguir a carreira de atleta e usar seus golpes para chegar aos Jogos.

    Um acidente de carro quando ela ainda era adolescente, no entanto, desenhou um novo caminho para a faixa preta.

    Zahra ficou paralisada, não podia mais andar. Depois de alguns anos, decidiu que voltaria ao esporte. Queria apenas encontrar uma modalidade para praticar e acabou descobrindo o tiro com arco.

    Campeã nos Jogos Paraolímpicos de Londres-2012, ela decidiu tentar a sorte buscando uma vaga no evento para atletas convencionais. E conseguiu.

    Quando se fala em deficientes buscando um lugar para participar da Olimpíada, a primeira imagem que vem à cabeça é a de corredores com próteses tecnológicas que podem levar alguma vantagem sobre pernas intactas, tirar a justiça da disputa esportiva.

    Foi essa polêmica que permeou toda a discussão sobre a possibilidade de o sul-africano Oscar Pistorius correr no Estádio Olímpico de Londres.

    É a mesma questão que impede agora o alemão Markus Rhem, do salto em distância, de realizar o sonho de ir aos Jogos para atletas convencionais. Ele estará no Rio para a Paraolimpíada e é favorito ao ouro. Está tão à frente dos demais que queria se desafiar contra atletas olímpicos.

    Zahra nos lembra que essa não é a única discussão possível quando se trata de olímpicos e paraolímpicos competindo juntos.

    Os Jogos já viram outros deficientes em ação. Como a sul-africana Natalie du Toit, nadadora que tem parte de uma das pernas amputadas e também foi a porta-bandeira de seu país na cerimônia de abertura de Pequim-2008. Ela se tornou a primeira atleta a ter a honra nos dois eventos multiesportivos.

    Natalie disputa maratonas aquáticas e participou da prova de 10 km na China.

    Zahra não leva nenhuma vantagem sobre suas adversárias na disputa do tiro com arco por estar sentada em sua cadeira de todas. Colocada em 49º lugar após o classificatório inicial, a iraniana começará sua busca por uma medalha na terça (9), desta vez na Marques de Sapucaí real.

    Sua história é como a de qualquer atleta que quer realizar o sonho olímpico. Ela é igual aos outros mais de 11 mil que disputarão a Olimpíada no Rio de Janeiro.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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