• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 18:58:52 -03
    Mariana Lajolo

    Treinadora de 74 anos ajudou atleta a bater recorde dos 400 m na Rio-2016

    26/08/2016 02h00

    Os Jogos de 2016 foram um evento de afirmação para as mulheres. Enquanto em Londres a festa era por causa da inclusão delas em todas as modalidades, no Rio foram celebradas as performances. Simone Biles dando um basta a comparações e dizendo que não será "o novo Michael Phelps ou o novo Usain Bolt", Katie Ledecky e Katinka Hosszu dominando a piscina, Rafaela Silva, mulher, negra, da favela, único ouro do judô brasileiro.

    Os EUA levaram 292 mulheres à Olimpíada, 52,6% da equipe, um recorde.

    Mas ainda há lacunas, e elas aparecem principalmente entre aqueles que guiam os atletas até o pódio. É muito raro ver mulheres ocupando o posto de treinadoras na maioria das modalidades individuais e coletivas.

    Ainda é uma barreira a ser quebrada. Como se elas fossem vistas como capazes de competir, mas não de orientar. O estigma só é quebrado ainda em esportes com predominância feminina, como nado sincronizado e ginástica rítmica.

    Por isso salta aos olhos o que há por trás de uma das performances mais impressionantes dos Jogos. O sul-africano Wayde van Niekerk correu os 400 m rasos em 43s03 e derrubou um dos mais antigos recordes mundiais do atletismo, que já perdurava 17 anos. A marca anterior pertencia a Michael Johnson, uma lenda das pistas.

    Quando o corredor cruzou a linha de chegada, uma vovó (bisa, na verdade) de cabelos bem brancos foi ao delírio na arquibancada. A imagem na TV não era da família de Niekerk celebrando. Era de sua treinadora.

    Aos 74 anos, Anna Botha é a responsável por uma transformação técnica que levou o pupilo ao ouro e ao recorde. Tannie Nas (Tia Anna, na língua natal), como é conhecida, conheceu o corredor quando ele foi para a University of the Free State, em Bloemfontein, em 2012.

    Ela comandava o time de atletismo desde 1990, mas ficou tensa ao assumir a carreira de um corredor deste nível internacional. Sua primeira intervenção foi tirá-lo nos 200 m rasos por causa da quantidade de lesões que o atleta sofria. O foco seriam os 400 m.

    Depois, ajudou Niekerk a mudar sua técnica para conseguir passadas mais amplas, no estilo de Usain Bolt –uma abordagem moderna, o que derruba também o preconceito de que uma técnica idosa seria incapaz de acompanhar conceitos atuais. Assim, o pupilo passou correr com mais eficiência e conservar a velocidade até o final da prova.

    Com Niekerk no topo do pódio, Tia Anna não pensa em parar. Diz que ainda pode render mais, que nunca é tarde para aprender. Mulher, 74 anos, treinando um dos homens mais velozes do mundo. Basta só dar chance a elas.

    David Gray/Reuters
    2016 Rio Olympics - Athletics - Final - Men's 400m Final - Olympic Stadium - Rio de Janeiro, Brazil - 14/08/2016. First placed Wayde van Niekerk (RSA) of South Africa poses next to information board. REUTERS/David Gray FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: CVI11200
    Wayde van Niekerk comemora recorde mundial nos 400 m

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024