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    Mariana Lajolo

    A sombra do doping continuará a seguir o esporte

    23/09/2016 02h00

    Primeiro foram a tenista Serena Willians e a ginasta Simone Biles. Depois, o também tenista Rafael Nadal, o corredor Mo Farah e os ciclistas campeões da Volta da França Bradley Wiggins e Chris Froome.

    Todos nomes do topo da elite do esporte mundial. O que sempre foi tratado como boato e suspeita estava comprovado: eles tiveram resultados positivos em exames antidoping e nunca foram punidos.

    Mais um escândalo de fraude? Não, esses atletas seguem as regras e estão liberados para usar as drogas que apareceram em seus testes.

    Isso mesmo. Eles podem usar substâncias consideradas doping graças a um expediente chamado Autorização de Uso Terapêutico.

    Imagine, por exemplo, que um atleta tem asma. O remédio usado no tratamento da doença possui substâncias que podem ser doping. O que ele faz? Não se trata?

    Seria uma temeridade. Por isso, em 1991, a Wada (Agência Mundial Antidoping) criou uma regra que permite que o atleta peça autorização para usar esse tipo de remédio.

    Pela regulamentação, é necessário laudo médico que ateste a necessidade do uso da droga, mostre a ausência de alternativas no mercado e prove que ela não irá melhorar a performance. Depois, uma comissão avalia o caso. Aí mora o primeiro problema. O controle não é feito de forma severa nem transparente. Muitas vezes, basta o histórico do paciente e uma carta de um médico para a liberação do uso da droga. Assim, fica fácil burlar o sistema.

    Segundo a "The Economist", pesquisa do Instituto de Saúde Pública e Vícios da Suíça mostrou que 67% dos médicos dariam estimulantes para pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção mesmo sem necessidade clara do uso da medicação.

    O que isso tem a ver com esporte? Em 2015, a maior parte das liberações para uso terapêutico de atletas dos EUA foi de estimulantes para o tratamento dessa doença.

    Em 2002, o número de adultos entre 18 e 45 anos com asma no mundo era de 4,3%. No mesmo ano, 5,2% dos competidores dos Jogos de Inverno alegavam ter a doença. Remédios para asma podem ser usados para ajudar na performance.

    No início de 2016, outro caso chamou atenção. A tenista Maria Sharapova foi flagrada com meldonium, substância que só se tornou proibida neste ano. Ela diz que usava a droga para tratar problemas de saúde. Curiosamente, outra centena de atletas também já testaram positivo.

    Os casos de Serena, Simone, Nadal e companhia foram revelados pelo grupo de hackers Fancy Bears, que invadiu o sistema da Wada. Suspeita-se que seja retaliação às sanções impostas aos russos na Olimpíada e na Paraolimpíada do Rio.

    Seja qual for a motivação, estão certos ao afirmar que "um sistema tão falho produz licença para o doping". Os atletas jogaram com as regras. Mas qualquer falha nelas pode levar a vantagens desleais.

    Os escândalos recentes deveriam servir de alerta: sem controle rigoroso e transparente, a sombra do doping continuará a seguir o esporte.

    PONTO FINAL

    A coluna deixa de ser publicada em "Esporte". Foi um prazer ocupar este espaço.

    Mariana Lajolo

    Escreveu até setembro de 2016

    Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

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