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    Mariliz Pereira Jorge

    Você é uma cara-pintada?

    15/05/2014 02h38

    Em março, a revista Vanity Fair publicou um ensaio com vinte celebridades, que incluía Brad Pitt, Scarlett Johansson, Kate Winslet e Oprah Winfrey, todos sem nenhum tipo de maquiagem ou produção de roupa e cabelo. A ideia era mostrá-los como nunca tinham sido vistos. Deu certo. As fotos foram tiradas de um ângulo e com uma luz que deixou a maioria deles feia. Não entendi a mensagem.

    Queriam nos convencer que a Julia Roberts é gente como a gente? Que a vida sem vaidade é mais vida? Era um protesto contra a MAC ou a Bourjois?

    Quando vi todas aquelas pessoas lindas, charmosas e atraentes fazendo de conta que não são nada disso senti como se estivessem zombando da nossa cara. Imaginei aquelas editoras da Vanity Fair com três camadas de BB cream, CC cream e DD cream editando as fotos e se achando as engajadas na luta contra as caras-pintadas.

    A gente é bombardeada todos os dias com lançamentos de corretivos, clareadores, iluminadores, e produtos miraculosos que limpam, hidratam, rejuvenescem e fazem o quadradinho de oito, tudo em um só tubo, e vem alguém nos convencer que bonito é sair de casa com uma olheira medonha só porque uma famosa apareceu mal ajambrada em uma foto feita por um fotógrafo badalado?

    'Natural is beautiful' só é beautiful mesmo se a genética ajudou. Caso contrario, o kit survival é enorme. É primer, paleta de corretivos, 20 cores de sombras, 15 de batons, fixador, blush em creme, em gel, em pó do pirlimpimpim, produto para tirar o make, limpar, tonificar, antirrugas, para amaciar os pés, para as manchas nas mãos, um que faz os cílios crescerem, outro para as cutículas diminuírem. Tem que ter esmalte azul. Não, agora é verde.

    Senti cheiro de negação. Ou enganação. Vi gente que se esconde atrás de quilos de maquiagem postando foto com hashtag e fazendo cara de descolado. Na Vanity Fair e em todas as revistas que copiaram a ideia - quer dizer, se inspiraram -, todo mundo com a fisionomia triste, com semblante de desconsolo. Qualquer um fica feio desse jeito. Até quem é bonito. Mas para que isso?

    Na mesma edição de uma revista brasileira que embarcou na onda da cara lavada vi uma reportagem sobre os make tendência para ficar moderna. E outra para copiar a maquiagem de quem? Bingo. Das celebridades.

    Essa história toda só me fez pensar que seria como se Jaime Oliver resolvesse fazer um programa dizendo que o legal mesmo é viver de luz. Ele e algumas panelas vazias, num cenário bucólico de algum lugar da Toscana.

    Todo mundo já viu centenas de fotos de Brad Pitt no dia a dia. Os paparazzi estão aí para isso. Em todas ele aparece exatamente o que ele é. Um homem lindo. O mesmo acontece com Kate, Julia, George. Na Vanity
    Fair, Brad está com o rosto brilhando e o cabelo ensebado. Se não ficou medonho, estava perto disso. É ou não é um ótimo ator, que encarnou perfeitamente o papel de um cara que não era ele? Assim como todos os outros.

    Não estou fazendo apologia ao uso de make. Sou muito mais da turma do menos do que do mais. Detesto quando tentam me convencer a usar base para esconder as manchas de sol da minha pele. Só uso máscara para cílios e blush. Mas não saio nem da cama sem eles. Mesmo assim, tenho uma quantidade infinita de sombras, lápis, delineadores, gloss, ali numa nécessaire, guardadinhos, mofando. Mas vai que preciso.

    Convivo com gente que não usa nem batom e outras que parecem ter saído de um ensaio de revista. Essa é a maravilha de viver em 2014, onde a beleza empacotada tem cada vez menos espaço. Saímos todas juntas, cada uma com seu estilo e sua beleza. Com ou sem maquiagem.

    Se não está fácil para Scarlett, imagina para nós. Vou ali passar um blush.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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