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    Mariliz Pereira Jorge

    Deus manda recado aos torcedores

    03/07/2014 02h00

    Gostaria de esclarecer de uma vez por todas. Tem dois assuntos em que eu não me intrometo: política e futebol. Poupem suas velas, suas orações, novenas. Não adianta ajoelhar, fazer promessa, penitência ou tomar banho de comigo-ninguém-pode. Não acompanho os jogos, não fiz o álbum de figurinhas e não entrei em nenhum bolão nem por diversão.

    Só sei mais ou menos como estão os resultados para manter a paz divina. Proibi todo mundo de meter o bedelho. Nossa Senhora de Guadalupe, tenho certeza, está ocupada com outras coisas porque o México foi despachado para casa. Ou fez algum acordo com Nossa Senhora Aparecida. Já Nossa Senhora dos Anjos, padroeira da Costa Rica, recebeu um chamado para se explicar e provar que não tem nada a ver com estes placares.

    Não dá para misturar as coisas. Já é um inferno no Campeonato Brasileiro quando tenho que apartar briga entre uns 20 santos. Não dou conta de negociar com São Jorge, São Paulo, São Judas, Nossa Senhora da Vitória e todos os outros. Por isso, o combinado é que eles se virem sem minha interferência. É claro que dá confusão.

    Tenho certeza que vocês concordam que tenho mais coisas com que me ocupar. Ou acham que sou como vocês, que podem parar no meio do serviço para assistir Argentina e Suíça? Falei pro Papa Francisco que era problema dele, mas ele também não quer se comprometer. Logo com quem, com o país da sua guarda pessoal?! Eu lavaria minhas mãos. E acho que foi o que ele fez, porque foi um sufoco.

    Tanta coisa acontecendo no mundo. Fome, enchentes, terremotos, epidemia de ebola e dengue, tsunami, israelenses e palestinos se matando e vocês acham que eu tenho tempo para ficar sentado aqui tomando vinho e brincando de botão?! Parem de falar que tudo é graças a mim. O time ganha, 'graças a Deus'. O time perde, vocês falam o quê, que eu virei a casaca? Não vou privilegiar alguém em detrimento de outrem.

    Mas digamos que eu realmente quisesse interferir, atender o pedido de uma nação, como eu faria essa escolha? Vocês mesmo sabem que são todos meus filhos e um pai não gosta mais ou menos de um ou de outro. Então, parem com essa ladainha de que eu sou brasileiro.

    Só uma passadinha no Trip Advisor pra saber que o mundo está cheio de paraísos. Pensem: no Brasil faz um calor infernal, toca Lepo Lepo, está cheio de gente malandra, o trânsito está sempre um caos, o serviço público é um Deus nos acuda, todo mundo chega atrasado, os produtos custam o triplo, os impostos são de matar, ninguém fala obrigado ou com licença, a internet é pré-histórica. Se eu fosse mesmo brasileiro, os deixaria viver nessa zona?

    Voltando ao futebol, algumas pessoas vão dizer que não sou eu, mas o poder da fé, que a corrente de orações cria um campo de força tão poderoso, capaz de grandes feitos. Precisa tudo isso mesmo para fazer um gol? Que tal treino, empenho, dedicação?

    Honestamente, se virem.

    Tem mais: outubro está aí e eu peço desde já que parem com essa palhaçada de santinho pra cá, santinho pra lá. Eu e todo mundo sabemos que não tem um santo no mundo da política.

    Enfim, para todos os outros assuntos, continuo aqui, firme e forte. Fiquem todos com Deus, quer dizer, comigo. #tamojunto

    Na próxima semana, a colunista volta a escrever nesta página.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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