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    Mariliz Pereira Jorge

    Nulo e branco é para os fracos

    15/10/2014 02h00

    Sempre gostei de votar. Quando me mudei do Paraná para São Paulo, levei meu título junto. Fiz a mesma coisa agora que moro no Rio. Sou contra o voto obrigatório, mas, mesmo que não fosse, estaria lá batendo ponto com meu título de eleitor.

    Quanto menos as opções são do meu agrado, mais leio, discuto e pondero. Voto, sim, mesmo que seja num candidato em quem acredito pouco, confio pouco e que me representa mais ou menos. Porque em eleição não dá pra ser café-com-leite.

    Mas tenho visto muita gente declarar voto em branco ou nulo, como forma de protesto, de dizer que não concorda com nada do que está aí. Mas o que está aí é o que temos para agora. E o nome disso é democracia: significa que não adianta olhar para o próprio umbigo e espernear porque as coisas não saíram como se quis. Em política e em tudo na vida, não dá para agradar todo mundo. Você pode não estar feliz, mas outras pessoas estão. Simples assim.

    Na semana passada, foi a vez da candidata Luciana Genro, que orientou seus eleitores a votarem em branco, nulo e a não votar em Aécio. "E isso não significa que estamos apoiando Dilma", disse. Ela detesta tanto o PSDB e, então, fica em cima do muro. Pior, lava as mãos e presta um desserviço quando prega voto que não vale nada ou sugere Dilma com a convicção de quem diz "não tem tu, vai tu mesmo".

    Muita gente que não votou em Luciana não desgosta dela por vários motivos. Ela defende bandeiras liberais, como casamento gay, legalização de aborto e drogas. Mas, quando fala de política econômica, parece adolescente pentelha querendo contestar coisas que deveriam ser página virada. É tão caricata que dá vontade de mandar para o quarto de castigo, sem o notebook Apple.

    Luciana, como bem descreveu a jornalista Cora Rónai, de "O Globo", parece a personagem do filme "Adeus, Lênin" e vai levar um susto quando descobrir que estamos em 2014. Uma socialista fervorosa fica em coma por oito meses, não vê a queda do Muro de Berlim e a chegada do capitalismo. Quando acorda, o filho faz de tudo para que não leve um choque com as mudanças. Qualquer semelhança com a realidade...

    A candidata do PSOL, ao recomendar o voto em branco ou nulo, parece que esqueceu a importância de estimular as pessoas a participar do processo democrático. Antes não tivesse manifestado nenhuma opinião. O número de abstenções já é altíssimo. Quem vota em branco ou nulo não está contestando nada, apenas se conformando. Dizendo tanto faz, não estou nem aí.

    Quando eu cheguei à idade mínima para votar, a democracia já estava restabelecida. Mas vivi o suficiente para saber o que era um país onde as escolhas não eram feitas pelo povo. Agora, quando podemos participar, tem gente que vem fazer apologia ao voto branco e nulo.

    Pois bem, meu caro sabichão, que resolveu ficar no poleiro só olhando a confusão. Você pode até se sentir muito esperto em não optar por este ou aquele, mas saiba que um dos dois se beneficiará da sua decisão de não cagar e não sair da moita. E pode ser justamente o candidato que você menos gosta, mesmo que não goste de nenhum dos dois.

    Tão fácil sair pela tangente e, quando der uma merda bem grande –e sempre haverá gente dizendo que está dando merda–, poder dizer que não tem nada a ver com isso. Votar em branco e nulo é o mimimi mais bocó das eleições. Prefiro escolher mal a deixar que o façam por mim. Não optar por nada é coisa de gente que se omite, que se acovarda ou fraqueja. Ou tudo junto e misturado.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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