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    Mariliz Pereira Jorge

    Se ela não gozar, relaxe

    25/06/2015 02h00

    Não há nada melhor do que coroar a primeira noite de sexo do que um belo orgasmo bilateral. Fazer uma mulher gozar eleva a autoestima de qualquer homem à lua. E a gente fica bem feliz de ver nosso parceiro extasiado. O que talvez vocês não saibam é que para muitas mulheres não há nada pior do que a obrigação do orgasmo num primeiro, segundo ou centésimo encontro. Sim, há outras coisas piores, como chulé, mau hálito, falta de educação, pinto meia bomba, Crocs ao lado da cama, mas nenhuma delas depende de nós.

    Gozar é difícil. E gozar com um novo parceiro é uma tarefa árdua. E se a gente gosta do cara de verdade a probabilidade de ver estrelinhas no teto do quarto despenca. E, então, você já sabe o que acontece: a gente finge, grita, encrava as unhas nas suas costas, tudo de mentirinha. Pra deixar você feliz e pra gente não se sentir fracassada.

    Calma, meninas, estou falando de algumas. Não de você, deusa do gozo feminino, ser superior e bem resolvido. Eu nem sempre fui e já tive que lidar muito com a mazela do orgasmo não alcançado.

    Os homens têm medo de broxar, as mulheres do meu tipo têm pavor de não conseguir gozar, porque parece que não estamos curtindo ou que somos meio frígidas. Não é a toa. Apenas 11% conseguem chegar lá com um parceiro novo. O percentual aumenta um pouco nas vezes seguintes, mas fica em 34% na terceira ou na quarta vez. Se você é um dos felizardos, ou acha que é um dos felizardos, não se anime. O mérito, na maioria das vezes, é dessas poucas afortunadas, que conseguem relaxar e gozar.

    Gostaria que você entendesse: a culpa não é sua. A culpa tem mil donos e vem dessa vida que deixa cheia nossa cabecinha doente e cheia de neuras. Mesmo com experiência, eu me sentia um pouco insegura em meus primeiros encontros. A gente sempre acha que a bunda está caída, o peito, murcho, que deveríamos ter tomado mais um banho antes de sair, que a calcinha não está boa.

    O orgasmo para a mulher também demora mais para chegar, não é novidade. E justamente por levar mais tempo é que algumas ficam meio encucadas de estar dando muito trabalho. Porque dá trabalho.

    Não disse, cabeça doente?! Você já deve ter passado por isso. Está lá, suando em bicas, fazendo o quadradinho de oito, com cãibra na língua, tendinite no dedo e a moça nem treme. Acredite, pode estar uma delícia, mas enquanto você se lasca, ela está preocupada se você reparou na axila peluda ou se você gostou do jeito que ela se desvencilha da sua mata nativa.

    Acontece com as mais bem resolvidas. Que nem sempre são bem resolvidas. Não há tesão sem expectativa. E a expectativa às vezes broxa o tesão.

    As mulheres também querem agradar, deixar uma boa impressão. Tem que ser bom pra todo mundo. E sem conhecer bem esse fulano nem sempre ela vai dizer o que mais gosta, e o que a ajudaria a chegar ao orgasmo. Por exemplo, você tentaria fazer sexo anal num primeiro encontro? OK, não há regra, mas a chance de a moça ficar incomodada com a rapidez da sua investida é enorme.

    Pois bem, digamos que ela goste, e muitas gostam, de ser chamada de cachorra e safada e que isso seja uma forma de carimbar o passaporte do gozo. Nem sempre ela se sentirá à vontade de pedir isso sem conhecê-lo melhor. Ou de ficar de quatro ou de propor uma bizarrice qualquer.

    Quer ajudar a mudar essa estatística de 11%? Tem jeito, claro. Mulher precisa e gosta de se sentir segura nessas situações. Talvez o melhor começo seja: não seja ogro. Esqueça as posições mirabolantes, 'papai e mamãe' é uma boa alternativa para começar porque o olho no olho aumenta a intimidade. Guarde seu repertório acrobático. Precisamos ficar mais tempo em cada posição para evoluir e chegar ao orgasmo. Cada vez que você muda, voltamos a estaca zero.

    Só mais uma coisa: mesmo que o orgasmo seja apenas a cereja do bolo de uma noite bacana, não significa que você não precisa se esforçar. A gente gosta, agradece e, com sua paciência e compreensão, acabamos relaxando e gozando. De verdade.

    E, pelamordedeus, não pergunte se foi bom. Se foi bom, você vai saber. Se não foi, vai saber também.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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