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    Mariliz Pereira Jorge

    O esporte perde muito sem a Globo

    18/07/2015 02h00

    O jogador de polo Edwin Carrera, que defendeu o Equador no Pan, quase leva um cartão vermelho mesmo fora da piscina. Sentado ao meu lado na final entre Brasil e EUA, ele transmitia o jogo ao vivo pelo celular, o que é proibido pela organização que, entre outras coisas, ganha muito dinheiro vendendo os direitos.

    Carrera estava excitadíssimo porque tinha umas 400 pessoas, a maioria brasileiros, seguindo sua transmissão clandestina. "Avisei os jogadores do Brasil para que suas famílias e amigos pudessem acompanhar o jogo", me contou.

    A final do polo aquático, assim como algumas provas de outras modalidades, não teve transmissão oficial da CBC, que tem os direitos. Não foi a única vez. No Canadá, isso resultou numa chiadeira dos espectadores, que reclamam por não poder acompanhar a competição ao vivo. Ao vivo, mas no conforto do sofá porque estão sobrando ingressos na maioria das competições.

    No Brasil, as opções são o SporTV, para quem tem cabo. Ou a Record News e Record, entre os canais abertos. Esta última tem se revelado um problema para todos os lados.

    A Record, que investiu R$ 20 milhões pelos direitos do Pan, viu sua audiência cair 25% nos horários em que coloca a competição no ar, segundo informações do colunista do F5 Fernando Oliveira.

    Dá pra entender por que, enquanto os brasileiros ganhavam ouro no revezamento 4 x 100 masculino de natação, os espectadores da Record assistiam ao programa do Gugu. Mas, se não é para transmitir os jogos, por que comprar os direitos?

    Fora da TV, sem visibilidade e sem repercussão, quem mais perde é o esporte. Perde torcedores, perde patrocínios, perde apoio. Pouca gente deve saber que temos campeões no tiro ou na luta olímpica. Pior, não sabem nem como são praticados.

    Os patrocinadores também não têm motivação para investir em esportes que ninguém vê ou não sabe que existe, porque não têm retorno.

    Muita gente reclama da Globo, do Galvão, do papagaio da Ana Maria. Reclamar da Globo é default. Mas é inegável que a Globo tem um público cativo e um jornalismo esportivo de primeira e poderia aumentar o interesse das pessoas não muito aficionadas por esporte, por um evento como o Pan-Americano.

    Você entra na padaria de manhã, a TV está ligada na Globo. Vai ao médico, o programa é o Bem Estar. Deixa o carro para lavar, todo mundo vendo "Vale a Pena Ver de Novo". É default reclamar da Globo, mas é default deixar a TV sintonizada nela. E se a Globo estivesse transmitindo o Pan, ele poderia estar na boca do povo. Mas não está.

    A repercussão do evento no Brasil é minúscula. Tão pequena que nem para a parte da fofoca e do mimimi as pessoas dão bola. Assuntos como a bunda da atleta de saltos ornamentais Ingrid Oliveira ou a continência dos atletas militares se apagaram sem soltar uma fagulha.

    Para alguns internautas, a cobertura da Record é um "fiasco". "Nem me lembro que tem Pan." "Com a Globo, o alcance seria maior entre o público que não é tão ligado em esporte." "Falta a rapidez da cobertura da Globo."

    A audiência do SporTV prova que não se trata de desinteresse do público. Nos primeiros cinco dias de competição, a média dos canais SporTV cresceu 106% em 2015. Enquanto transmitiu os eventos ao vivo, liderou entre os canais adultos da TV por assinatura com mais de 36% de vantagem sobre o segundo colocado.

    Para quem não tem TV a cabo, pode ser ruim com a Globo, mas é pior sem ela. Pior para o Pan. Pior para o espectador. Pior para o esporte brasileiro.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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