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    Mariliz Pereira Jorge

    O que sei sobre amor, mas não adianta quase nada

    23/07/2015 18h44

    Gostaria de poder dizer que consegui encontrar todas as respostas para as minhas piores e também para as mais bobas perguntas sobre a vida, sobre mim e sobre o amor.

    Por que não ligou, se foi tão legal? Por que sumiu? Por que está sendo babaca? Por que dói tanto gostar de alguém? Por que não consigo esquecer esta história?

    Queria ter as respostas. Ou simplesmente não me importar. Mas apesar de já ter vivido muitas coisas e entender como algumas coisas funcionam, na hora em que mais preciso usar todo esse conhecimento, acabo me comportando como uma garota inexperiente. Mesmo que não pareça uma. Queria não me importar, mas me importo. Queria não sofrer, mas sofro.

    Ontem mesmo, falava com uma amiga que poderia ser eu mesma aos 27 anos. Ela sofria por aquele tipo de história que a maioria das garotas sofre. Você conhece um cara, ele parece um tipo bacana, diz que morre de saudade e do nada desaparece por dois dias.

    Reaparece com a maior cara deslavada e o que você faz? O que todo mundo faz. Derrete o orgulho, acredita, engole a desculpa, para ter o coração despedaçado no dia seguinte e se odiar para sempre. A gente acha que é especial, mas é só óbvio o tempo todo.

    Falei para ela: você sabe qual foi seu erro, não sabe? Você não deveria ter encontrado com ele quando te procurou. Um cara bacana é bacana sempre, não apenas quando quer ser bacana. Você deu chance de ele ser sacana e bancar o imbecil duas vezes. Para ele, a vida continua. Para você, a vida só continua quando você parar de sofrer. E de fazer perguntas que não tem resposta.

    Eu sei disso agora. Desconfio que também soubesse quando era mais nova, mas só consigo ver claramente porque estou aqui do lado de fora, olhando outra pessoa se ferrar, como aconteceu comigo tantas vezes. É tão claro, mas a gente não consegue ver.

    Você não tem culpa, minha amiga não tem culpa, ninguém tem culpa. A gente acredita nas pessoas, nas histórias, no amor. Ainda bem que é assim. A diferença entre mim e uma garota de 20 anos é que eu acredito um pouco menos, mas vou lá e faço a cagada mesmo assim.

    O que a experiência me trouxe de bom é que a cada pé no lombo diminui o tempo que demoro pra levantar do tombo. Lembro quando passei três meses achando que morrer de fome era menos doloroso do que morrer de amor. Depois me dei exatamente um mês pra voltar a viver. Na última vez foram duas semanas. Entrei num avião e fui para a Itália. Brinquei de "comer, beber e amar" e em duas semanas estava curada.

    Próximo.

    Com 20 anos meu coração e meu miolo mole não conseguiriam. Com 20 meu bolso furado não permitiria. Com 40 a gente entende que a vida tem dessas coisas. Continua acreditando sem sofrer muito. Sofre sem morrer demais.

    A gente passa a entender que ninguém é tão especial que não possa fazer papel de idiota. Que ninguém é tão inesquecível que não possa ser substituído. Que ninguém morre por amor. Que o amor não volta porque estamos sofrendo.

    E mais importante: que é bom viver, aprender a viver, aprender as coisas da vida, mas não deixar que os tombos da vida nos endureçam. Mais vale um miolo mole do que um coração duro.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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