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    Mariliz Pereira Jorge

    Nem sempre é melhor ao vivo

    25/07/2015 02h00

    Falta pouco menos de um ano para a Olimpíada do Rio e a compra dos ingressos é tão concorrida que as pessoas têm que participar de sorteios, contar com bastante sorte, além do dinheiro, para ter o direito à compra.

    Nessas situações, vejo como o brasileiro é um pouco carente de eventos porque tem gente dizendo que vai assistir qualquer coisa apenas para participar de alguma forma das competições.

    Faz sentido a euforia porque todo mundo se lembra como a Copa foi divertida e como as pessoas lamentaram ficar de fora porque não havia ingressos.

    Valeu a pena não apenas ver os jogos da seleção brasileira, mas qualquer um. Eu mesma só consegui ir a duas partidas, no Maracanã. A primeiro foi Bélgica x Rússia. A segunda... Nem me lembro quem estava em campo. Mas lembro que me diverti horrores porque, em eventos dessa grandiosidade, a festa, a celebração, acaba sendo mais importante do que o placar.

    Para quem vai pela competição, nem tudo é melhor ao vivo e a cores. Há esportes, muitos na verdade, que bom mesmo é acompanhar pela TV. Outros, honestamente, é melhor não ver de forma alguma porque só são divertidos para quem pratica, uma chatice sem fim para quem está do lado de fora. Mas há também aqueles que só ao vivo têm alguma graça.

    Tiro com arco, por exemplo, não dá pra ter ideia do que está acontecendo se você é leigo. Pior, o atleta se posiciona, bonitão, com seu arco ultramoderno e, mesmo que você não pisque, não consegue ver a flecha fazendo o trajeto até o alvo. E, mesmo com a flecha no alvo, não dá para saber se foi bom, se foi ruim, por causa da distância e porque têm vários competidores atirando ao mesmo tempo. Na TV é possível ter imagens mais próximas de tudo, mas ao vivo só é divertido para quem participa da brincadeira.

    Em compensação, confesso que fiquei surpresa com a emoção de uma partida de badminton ao vivo. Para quem não sabe, é um esporte individual ou em dupla praticado com raquete e peteca. Pois é. De cara parece uma chatice. Nem cara de esporte olímpico tem. Que diabos alguém um dia resolve que vai jogar peteca? E ainda vira fera na peteca. Em casa, jamais perderia meu tempo vendo uma partida. Ao vivo, vibrei junto com uma arena lotada na final da dupla que garantiu uma prata ao Brasil. Foi emocionante.

    Ingressos para a ginástica são sempre disputados a tapa. Mesmo em Toronto, onde muitas arenas estavam meia-boca de público, a ginástica estava cheia sempre. E, para meu espanto, detestei ver o dia da competição em equipe ao vivo.

    Explico. Tudo acontece ao mesmo tempo. Brasil nas argolas, Canadá no cavalo, Cuba no solo e assim por diante. Eram seis equipes. Você tem que escolher o que acompanhar. Mas quem está lá na boca do gol –eu pelo menos– quer ver tudo, afinal só assim para comparar o desempenho. Foi frustrante.

    São impressões pessoais. Gosto é aquela coisa, cada um com o seu. Mas fique avisado caso chegue todo pimpão com seu ingresso caríssimo a alguma prova ou jogo na Olimpíada e descubra que teria sido mais barato, mais confortável e mais divertido ter ficado em casa em frente à TV.

    Ou você pode ser do tipo que se diverte até vendo esgrima, levantamento de peso e boliche. Não disse? Gosto é aquela coisa.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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