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    Mariliz Pereira Jorge

    Torcedor ficha limpa

    05/09/2015 02h00

    Lembra do caso das privadas arremessadas por "diversão" no Estádio do Arruda, em Recife, que matou Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26? Pois bem, os três torcedores foram condenados a penas de 22 a 28 anos.

    Ainda que a defesa tenha dito que "não era possível medir a intenção de alguém de matar", o júri entendeu que ninguém joga uma privada pelos ares sem medir consequência.

    Eu não chacoalho nem a tolha na varanda, porque ninguém merece uma chuva de migalha de pão, imagine uma privada.

    O que espanta é que apenas quando morre alguém é que medidas punitivas sejam adotadas. Enquanto isso, continuamos vendo bandidos frequentando estádio, fazendo bandidagem, às vezes, sendo preso, mas liberados no dia seguinte.

    Alguns ficam proibidos de assistir a poucos jogos para voltarem livres, leves e bandidos para fazer a mesma coisa. Como se fossem crianças marotas suspensas na escola por colar chiclete sob a carteira.

    Na semana passada, 14 torcedores do São Paulo foram presos depois de um confronto com a Tropa de Choque da PM. Carregavam rojões, pedras, spray de pichação. Passaram a noite no xilindró e estavam na rua no dia seguinte.

    Recentemente, Leandro Oliveira, uma figura conhecida da torcida corintiana e também das páginas policiais, foi preso com mais 16 torcedores no aeroporto de Natal, acusados de agredir e roubar vascaínos.

    Para quem não se lembra, ele ficou cinco meses preso na Bolívia por causa da morte do menino Kevin Espada, atingido por um sinalizador, lançado pela torcida do Corinthians, em jogo pela Libertadores, em 2013.

    Outro detido em Natal é indiciado por homicídio qualificado, mas, como responde em liberdade, foi solto. Ele, Leandro e todos os outros.

    Dá para acreditar que esses tipos não apenas continuam soltos por aí, mas continuam entrando sem problema algum nos estádios?

    Gente que sai de casa com rojão, pedras, facas ou o que for para ver um jogo de futebol não é torcedor, é bandido. E bandidos deveriam ser banidos para sempre das arenas.

    De que adianta tentar proibir torcidas organizadas, uma medida que não funciona, se individualmente os marginais não são punidos? O delinquente tem ficha suja até o nariz, mas no mundo do futebol, onde ele mais apronta, segue com ficha limpa.

    A condenação de três pessoas é um excelente começo. Mas o que as confederações deveriam fazer é coibir toda violência ao se antecipar a ela. Instituir uma ficha limpa para o torcedor e punir severamente os delinquentes. Fichar gente que briga dentro ou fora de estádio, destrói patrimônio nas arenas e nas ruas, xinga jogador de macaco, é flagrado com qualquer tipo de material que sirva para ferir alguém.

    Torcedor-bandido deveria ser proibido de pisar em estádios ou no raio de muitos quilômetros em torno deles por longos períodos ou para sempre. É aquela velha história, não sabe brincar não desce pro play. Até quando vamos tolerar marginais que acham que violência faz parte do jogo?

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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