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    Mariliz Pereira Jorge

    Ainda tem ingresso

    12/09/2015 02h00

    Você assistiu ao vídeo "O Treino que Muda Opiniões", que bombou na internet na semana passada? Sugiro que assista. Nele, três atletas paraolímpicos protagonizam cenas reais feitas com câmeras escondidas, em academias.

    Os três chegam para treinar no meio de outros frequentadores. São eles a judoca, cega, Lucia Teixeira, prata em Londres-2012, o velocista amputado Vinícius Teixeira, que corre os 100 e 200 m, e o halterofilista, anão, Luciano "Montanha" Dantas, bronze no Pan de Toronto.

    Lucia deu uma "surra" nos adversários, Vinícius correu a 23 km/h na esteira e Montanha ergueu mais peso que gente com o triplo do seu tamanho. Tudo sob olhares incrédulos.

    "O Treino que Muda Opiniões" tinha esse objetivo: mudar a forma que as pessoas enxergam um portador de deficiência. Até ontem, o vídeo tinha 17 milhões de visualizações.

    O treino que muda opiniões

    Não por acaso foi lançado dias antes do começo da venda de ingressos da Paraolimpíada. Até o dia 30 de setembro, os interessados devem se cadastrar no site para participar do sorteio –se houver necessidade– dos 3,3 milhões de ingressos. Até agora, os esportes mais procurados são atletismo, natação, basquete em cadeira de rodas, vôlei sentado e cerimônia de abertura.

    Por si só, participar de um evento como esse já vale a pena. Se as histórias de superação sempre agradam, na Paraolimpíada, a simples imagem de um atleta superando suas próprias limitações é de emocionar o coração mais duro. Mas os brasileiros têm uma razão a mais para prestigiar o evento. O Brasil tem a pretensão de ficar em quinto lugar, melhorando ainda mais a sétima posição conquistada na Paraolimpíada de Londres. "É uma meta ousada, mas bastante factível", me disse Andrew Parsons, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

    Muita gente se pergunta como o Brasil se tornou uma potência paraolímpica tão rapidamente, lembrando que em 1996, em Atlanta, só ganhamos duas medalhas. Doze anos depois, 16 atletas subiram ao pódio. Em Londres-2012, foram 43.

    Para Parsons, isso se deve a uma série de fatores. "A aprovação da lei, em 2001, que dedicou 2% da arrecadação das loterias federais para o esporte (85% ao comitê olímpico e 15% para o paralímpico) –percentual que irá a 37,04% a partir de janeiro– foi um primeiro e importante passo. Com isso foi possível desenvolver um calendário de eventos e treinamentos", disse.

    Vou mais longe. Temos material humano de sobra. Para muitos portadores de deficiência o esporte é a única forma de deixarem de ser invisíveis ou olhados com pena ou com espanto, como no vídeo encomendado pela Rio""2016. Outro motivo é a possibilidade de profissionalização e de ganhar dinheiro –mesmo que não muito–praticando esporte.

    Muitos começaram como parte de sua reabilitação física, outros tantos foram convidados para a formação de equipes, mesmo sem experiência, quando o esporte começou a render frutos. Sobram histórias de gente que não tinha a menor perspectiva de vida antes de virar atleta profissional.

    A Paraolimpíada tem a chance jogar holofote enorme em cima de um problema sério no Brasil: a inclusão. Além dos milhares de exemplos de superação, haverá muitos pódios e festas brasileiras. Cabe ao público garantir que seja um sucesso. Ainda tem ingresso. Como diz a campanha da Rio-2016, #temqueir. Eu vou.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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