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    Mariliz Pereira Jorge

    Vai ter Haka

    19/09/2015 02h00

    No país do futebol, todos os outros esportes são só os outros. Uma pena porque a gente acaba nem conhecendo modalidades que apaixonam se temos a oportunidade ou a curiosidade de saber mais sobre elas.

    Foi assim comigo e com o rúgbi. Quero falar sobre esse esporte porque ontem começou a Copa do Mundo, em Londres, na Inglaterra.

    O país, considerado o berço do futebol moderno, veja só, é também onde o rúgbi surgiu, na mesma época, na metade do século 19. Não por acaso. Os dois esportes têm a mesma raiz e se dividiram devido a dissidências entre os participantes sobre as regras. Uns queriam jogar só com os pés, outros com os pés e as mãos, e deu nisso.

    Natural que os ingleses sejam fãs dos dois esportes. Enquanto por aqui a maioria das pessoas é o que chamo de monoesportiva. E muitas vezes temos a falsa impressão de que o mundo só gosta de futebol.

    Não se engane. No ano passado, a nossa Copa foi transmitida para 211 países e vista por 3,2 bilhões de pessoas. Um assombro. Pois saiba que o mundial de rúgbi será visto em 207 países, por nada menos do que um bilhão de espectadores.

    É menos, mais ainda assim gente pra dedéu. Serei uma delas. A ESPN tem os direitos e será possível acompanhar ao vivo ao menos quartas, semis e final.

    Mas voltando ao meu caso de amor com o rúgbi. Era 2003, eu mochilava pelo mundo e resolvi passar uma temporada na Austrália. Eis que desembarco lá na semana em que acontecia a abertura da Copa do Mundo de Rúgbi.

    Gostem ou não, com corrupção ou não, com superfaturamento ou não, com obras meia-boca ou não, todos hão de concordar que do ponto de vista da festa a nossa Copa foi um estrondoso sucesso.

    Imagine, então, a mesma coisa acontecendo lá do outro lado do mundo. Não sabia nada do esporte, não conhecia nenhuma regra, nenhum dos times. Os ingressos, como aqui, estavam esgotados. Mas fui carregada por locais para todos os pubs de Sidney durante as duas semanas de campeonato.

    Muitas amizades, muitas pints de cerveja e eu terminei o mundial entendendo mais de rúgbi do que de futebol. Durante dois anos, foi o esporte que mais acompanhei. É vibrante, dinâmico e antimonotonia. Violento também.

    Além do mundial, o rúgbi volta a uma Olimpíada depois de 92 anos de ausência. O Brasil já garantiu vaga com as seleções masculinas e femininas. Eu tenho o coração bem dividido, mas ele pouco bate verde e amarelo.

    Eu era Austrália de carteirinha, claro, até ver um jogo entre australianos e neozelandeses, num estádio. Quando os All Blacks, como é chamado o time da Nova Zelândia, entraram em campo o estádio silenciou para vê-los performar a Haka.

    Haka é uma dança do povo maori, os índios neozelandeses. Posicionam-se como se estivessem em guerra e mandam ver nessa dança, que serve tanto para dar boas vindas a visitantes quanto a tribos inimigas. É de arrepiar o cabelo da nuca.

    Enquanto isso, os jogadores da nossa seleção choram como frangas enquanto cantam o hino nacional. E eu vejo que uma das vantagens de gostar de mais de um esporte é essa, quando um não está bom a gente se diverte com outro.

    O mundial de rúgbi é uma boa oportunidade de experimentar algo diferente. Vai ter Haka.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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