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    Mariliz Pereira Jorge

    Jogo perdido

    26/09/2015 02h00

    Ontem lendo os principais sites esportivos tive a impressão de ter caído por engano na parte policial ou de economia dada a quantidade de notícias envolvendo inquéritos, investigações, bloqueio de bens, pedidos de falência.

    Que fase.

    A novela Neymar, que parece série americana e não termina nunca, teve mais um capítulo. A Justiça Federal bloqueou nada menos do que R$ 189 milhões da conta do jogador, acusado de sonegação de impostos, inclusive da transação de seu passe entre Santos e Barcelona.

    Acho justo que Neymar seja chamado na chincha como qualquer outro cidadão. Por muito menos, tem gente com CPF cancelado. Já caí na malha fina porque esqueci de declarar um frila de R$ 1.000. Foi esquecimento e não malandragem. Paguei o imposto e a multa.

    Não é apenas o Corinthians que está com a corda no pescoço e precisa se virar para pagar o empréstimo feito pelo BNDES. A empresa que administra o Allianz Parque está colecionando pedido de falência. Recebeu o terceiro esta semana, fora dezenas de ações de cobrança e duas centenas de protestos registrados em cartório.

    Não acabou. O Santos teve as contas bloqueadas por causa de dívidas que chegam a R$ 300 mil com o empresário do jogador Renato Abreu. No total o clube dispunha de cerca de R$ 60 mil. Das nove contas, quatro não tinham nem R$ 1. Um clube como o Santos tem R$ 60 mil em caixa?

    Não precisa ser um gênio para saber que as coisas devem estar indo de mal a pior na Vila Belmiro. Gostaria que alguém me explicasse, como se eu fosse uma criança, como essa situação é possível num dos maiores clubes do país.

    Mas as melhores histórias ainda são as que envolvem a Fifa, essa entidade que deveria ser o baluarte do futebol, e que se revela a cada dia mais suja do que pau de galinheiro.

    Alguém ficou surpreso com a denúncia de que Michel Platini recebeu pagamento irregular de 2 milhões de francos suíços (R$ 8,3 milhões) de Joseph Blatter? Olha que bonito, o atual presidente da FIFA e o candidato favorito a vencer as eleições para presidir a entidade pegos com as mãos em dinheiro sujo.

    Desde que sete de seus dirigentes foram presos, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, todo mundo que acompanha o caso sabe que aquilo era apenas o começo e que é provável que outros brasileiros estejam enrolados até o último fio de cabelo. Mesmo os que não têm muito cabelo.

    Na quarta, a CPI do Futebol aprovou a quebra de sigilo bancário de Marin, que continua preso na Suíça, mas aguarda aprovação do pedido de extradição feito pelos Estados Unidos.

    Enquanto isso, Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, segue no cargo, mesmo que não seja mais segredo que esteja sob investigação do FBI. É uma vergonha que continue à frente da CBF enquanto essa sombra negra paira em sua cabeça.

    Ele se escafedeu da Suíça, abandonou Marin e segue refugiado no Brasil, evitando participar de qualquer compromisso internacional, provavelmente com medo de acabar fazendo companhia ao conterrâneo.

    Não é de admirar que clubes não honrem dívidas, que jogadores soneguem impostos, quando a lama toda começa lá no topo da hierarquia do futebol mundial. Por que no Brasil, logo no Brasil, seria diferente? Fica a impressão de que qualquer tentativa de moralização do futebol seja um jogo perdido.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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