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    Mariliz Pereira Jorge

    Mais do que um jogo de bola

    24/10/2015 02h00

    Sábado passado, o time de basquete do Flamengo recebeu o Orlando Magic para um amistoso do NBA Global Games, uma série de jogos disputados pelos times da NBA fora dos EUA. Uma chance incrível não apenas para os jogadores locais, mas também para o público.

    Gringo sabe fazer as coisas. Quem acompanha jogos de beisebol, futebol americano e basquete sabe que o esporte é apenas o protagonista da programação.

    Há uma série de atrações coadjuvantes que fazem o americano curtir cada minuto e transformam uma ida ao estádio numa diversão enorme até para quem não está interessado no jogo.

    Para começar, Stuff, o mascote do Orlando Magic, roubou a cena nos intervalos. Distribuiu simpatia, fez piruetas, circulou com um mini Segway, infernizou os seguranças grandalhões, participou de brincadeiras com o público.

    Não foi só, quem estava nas arquibancadas brincou com a Kiss Cam, quando casais são focalizados pela câmera do estádio e trocam beijos. Rolou uma brincadeira interativa, muito bem feita, em que os torcedores, quando focados, tinham que batucar em instrumentos virtuais.

    As crianças deliraram. Crianças de todos os tamanhos e idades.

    Por isso, me senti meio constrangida com o comportamento da torcida do Flamengo. A cada ataque do Orlando Magic a torcida vaiava. Va-ia-va. Claro que a maioria dos presentes estava ali para apoiar o time da casa. Mas os gringos era convidados, o jogo era amistoso, o Flamengo chegou a ficar 30 pontos atrás, mas, pior de tudo, os jogadores do Orlando estavam aqui também doando seu tempo para fazer caridade para crianças brasileiras.

    Além de vir ao Brasil e mostrar porque jogam na principal liga mundial de basquete, os atletas do Orlando Magic participaram de uma clínica de basquete para 50 crianças nas Cruzada São Sebastião, uma área pobre dentro do bairro mais rico da cidade, o Leblon.

    O evento serviu para inaugurar uma quadra nova no local, onde há 17 anos funciona uma escolinha de basquete para crianças carentes. O projeto ganhou apoio do NBA Cares, que tem patrocínio da Amway. Gosto de falar o nome dos patrocinadores porque é importante enaltecer quem coloca dinheiro em iniciativas assim.

    O NBA Cares é um projeto social da NBA que usa o esporte e as imagens da liga e de seus atletas para promover mudanças em comunidades carentes. É o terceiro ano que o Brasil é beneficiado e de quebra o público ainda ganha um espetáculo esportivo.

    Qual é a parte que a torcida rubro-negra não entendeu que precisava ter mais fair-play?

    Mesmo dando uma boa lavada nos anfitriões, o Magic jogou com seriedade. Lá para o final do jogo, os jogadores do Flamengo conversavam, tomavam água, distraídos com qualquer coisa, enquanto os gringos estavam todos em volta da prancheta do técnico.

    Depois de toda aquela vaia, deveriam ter feito umas piruetas e enterrado uma dúzia de bolas para dar um cala-a-boca-torcida. Que nada. Ao final do jogo, os jogadores do Magic nos aplaudiram.

    De parabéns estão eles, pelo talento, pela solidariedade e por ainda fazerem como poucos um evento esportivo que é muito mais do que um jogo de bola.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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