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    Mariliz Pereira Jorge

    Vai, Curintia

    14/11/2015 02h00

    Por que jornalista esportivo não pode torcer abertamente para um time de futebol? Falo de futebol, que é o esporte mais popular e que desperta mais paixões, mas poderia ser qualquer outro.

    Imaginava que era um desses tabus ultrapassados, mas quando estive no Extra Ordinários, do SporTV, a brincadeira era que Felipe Andreoli assumiria sua paixão pelo Corinthians.

    É o tipo de mistério bem fácil de solucionar. Google. Uma clicadinha lá para ver uma foto de Andreoli comemorando com sua mulher a vitória do Corinthians, na final do Mundial de Clubes, no Japão.

    Foi no Google também que soube que Galvão Bueno torce para o Flamengo, Thiago Leifert é são-paulino, Ricardo Capriotti, corintiano, e José Trajano, torcedor do América.

    Fiz uma enquete no Facebook, entre amigos e leitores, e as opiniões se dividem. De um lado aqueles que acreditam que o jornalista não pode ser torcedor, por uma questão de imparcialidade. Do outro, os que acham que o jogo ganha com a transparência.

    Fico com o segundo grupo.

    Primeiro, é hipocrisia achar que o leitor, o ouvinte ou o telespectador acreditem que um profissional da área esportiva não tenha uma preferência. Quase todo mundo trabalha com esporte porque é apaixonado pelo assunto.

    Segundo, brasileiro nasce e já ganha de presente uma camisa de futebol antes mesmo de falar, andar ou ter carteira de identidade. Isso significa que um profissional que torce por um time é mais tempo torcedor do que jornalista. E que um dia deixará de ser jornalista, mas nunca torcedor.

    Não faz o menor sentido que essa informação seja sonegada a todos que se interessam por esporte. Fica mais fácil perceber se o fulano está puxando sardinha para um time ou para outro. E fulano se já não tem consciência da importância de sua imparcialidade, fica consciente na marra.

    O que define a competência de um comentarista, repórter, apresentador não é continuar na clandestinidade, sustentando uma imparcialidade fajuta. Um bom profissional se conhece pela qualificação. É construído com conhecimento, poder e síntese de análise.

    Dois colegas de coluna são considerados, não apenas por mim, mas por leitores e colegas, profissionais acima de qualquer suspeita. Concorde ou não com eles. Juca Kfouri, corintiano, e PVC, palmeirense, saíram do armário faz muito tempo.

    Lembro do texto Centenário!, escrito por Juca na Folha. Foi uma declaração de amor de alguém que naquele momento era mais torcedor do que jornalista. E foi lindo!

    O bom profissional sabe o momento de torcer e o de trabalhar, porque uma coisa excluí a outra. E, para mim, pior do que não ter um time de preferência declarado é sentir ódio por algum deles e usar sua posição privilegiada contra ele.

    Eu mesma já contei na coluna "Time de futebol não é herança" como comecei a torcer pelo Corinthians. O que não me impede de criticar o time, o estádio, os torcedores, como já fiz e farei sempre que necessário.

    Da mesma forma, sou capaz de aplaudir o São Paulo sendo tricampeão de clubes, admirar um passe bem feito por um gremista, um gol genial marcado pelo Galo, a torcida do Flamengo dando show na despedida de Leo Moura.

    Consciência mais do que tranquila para esta semana poder gritar: vai, Curintia!

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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