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    Mariliz Pereira Jorge

    Cadê o respeito?

    28/11/2015 02h00

    A ideia da coluna desta semana era contar como funciona a estrutura da Rio-2016, comitê organizador da cidade-sede da Olimpíada.

    Estive recentemente na sede da organização do evento. Não foi a primeira vez, mas nessa ocasião tive informações das quais nem sempre nos damos conta quando falamos sobre o assunto. É comum a gente fazer uma confusão enorme sobre quem é responsável pelo que, de onde vem e para onde vai o dinheiro, principalmente na hora das críticas.

    É importante entendermos onde entram as responsabilidades do Comitê Olímpico Internacional, do Comitê Olímpico do Brasil, dos governos municipal, estadual e federal e o papel que cabe ao comitê organizador dos Jogos Olímpicos.

    Infelizmente, é impressionante como nossos governantes têm a capacidade de atropelar a notícia, com seus atos destrambelhados, inconsequentes e interesseiros.

    Nos últimos dias tivemos dois exemplos de como algumas figuras públicas parecem estar desconectadas da realidade e da opinião pública.

    Começo pelo episódio mais recente. A sanção da lei que isenta estrangeiros de vistos no período da Olimpíada. A lei deve contemplar países com baixo risco de periculosidade.

    Me perguntei se é muito difícil para nossa digníssima presidente enxergar que é uma das medidas mais estúpidas no momento. Depois dos atentados em Paris, o Exército defendeu o veto a essa medida.

    Não adiantou. A senhora Dilma Rousseff deve achar que entende mais de segurança do que uma das instituições que cuida do tema no país.

    A Olimpíada é o evento esportivo mais visto no mundo. Só a cerimônia de abertura deverá ser acompanhada por cinco bilhões de pessoas, maior audiência da história dos Jogos.

    Todo mundo estará ligado ao que acontece aqui. Haverá aglomerações de pessoas simultaneamente em várias arenas e pontos da cidade. Um prato cheio para lunáticos. Faz sentido relaxar qualquer norma de segurança daqui pra frente?

    O outro episódio lamentável foi a convenção do PMDB, no Rio, que virou uma sessão de desagravo ao pré-candidato à prefeitura da cidade, Pedro Paulo Carvalho.

    Todo mundo já sabe que Pedro Paulo tem contra ele três boletins de ocorrência por agredir sua ex-mulher. Em um deles, ela foi agarrada pelo pescoço, jogada contra o chão e a parede e atingida por chutes. "Quem não tem uma briga, um descontrole, quem não exagera numa discussão?", foi a sua patética defesa.

    Já é um absurdo que Pedro Paulo se mantenha no cargo de secretário-executivo da prefeitura. Mas ver todas as lideranças políticas do Rio aplaudindo um homem que bate em mulher é imoral.

    Eu me senti agredida ao ver o prefeito Eduardo Paes de mão dadas e punhos erguidos com um agressor. Os dois ali, zombando do eleitorado, mostrando que não têm o menor respeito e compromisso com ninguém a não ser eles mesmos.

    Não tenho a menor dúvida de que a Olimpíada do Rio será um sucesso. Torço por isso. Mas, de um lado, uma presidente que coloca em risco a segurança das pessoas. A troco de mais visitantes? Eles virão.

    Do outro, um prefeito que vai surfar a onda do sucesso da Olimpíada e usar tudo que está sendo feito para eleger seu sucessor, um homem que em nada representa os pilares do espírito olímpico, que são respeito, amizade e excelência.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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