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    Mariliz Pereira Jorge

    A ciclovia mais bonita do mundo?

    23/01/2016 02h00

    Quarta-feira foi feriado no Rio, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade, e eu aproveitei a garoa fina que caía para conhecer a ciclovia Tim Maia, inaugurada no sábado passado (17).

    Para quem não sabe, a passarela de concreto suspensa foi construída margeando a avenida Niemeyer, que fica numa encosta espetacular, entre o Leblon e São Conrado. Faz parte do pacote de promessas da Rio-2016.

    Quando foi aberta, teve congestionamento de bicicleta e, apesar da curiosidade, preferi esperar um dia menos concorrido. Bingo. Era feriado, mas chovia. E cariocas não gostam de dias nublados, como já disse Adriana Calcanhoto.

    Lá fui eu me aventurar pela tal "ciclovia mais bonita do mundo", como vem sendo chamada. Sempre desconfio de tudo que se autoproclama mais, melhor ou maior.

    O tal melhor bolo de chocolate do mundo está longe de ser o melhor, assim como o hambúrguer, que acaba de abrir uma loja na rua onde moro. Posso fazer uma lista com 10 hambúrgueres melhores do que esse.

    Mas lá fui eu para conferir o trecho da ciclovia que pretende ligar o Leme ao Pontal, e por isso a homenagem a Tim Maia. A vista é de perder o fôlego, esperado por quem já passou de carro pelo trajeto. Agora, vamos combinar, a vista já estava ali antes da ciclovia.

    O trajeto de 3,9 km não é um passeio. Portanto, se você é sedentário, não recomendo. O que chama atenção logo de cara é que, apesar de ter custado R$ 44,7 milhões, o acabamento é de quinta categoria.

    Em muitos trechos, me lembrei dos pedreiros que fizeram uma obra aqui em casa, a quem chamo de "os reis do calombo".

    Como se gasta tanto dinheiro em uma obra e o resultado é uma pista irregular, cheia de desníveis? O piso é vagabundo. A pintura, mal feita. A sinalização amarela, que separa ida e volta, está manchada em vários lugares. A tinta vermelha da pista escorre além do que deveria cobrir e já mostra muitas falhas.

    Se não houver manutenção, o que significa mais dinheiro, a ciclovia chegará à Olimpíada com cara de velha.

    No dia do meu passeio, havia pouquíssima gente, mas deu para perceber que será preciso habilidade na pista. Ela é bastante estreita, tem 2,5 m de largura, espaço apenas para uma bicicleta em cada direção. Sem contar os pedestres.

    Em um bom trecho, a ciclovia matou a calçada que já existia, usada por moradores da favela do Vidigal, hóspedes do hotel Sheraton, pessoas que trabalham no entorno e agora turistas. Podem anotar, haverá ciclistas e corredores atropelando turistas, engavetamento de bicicletas e de gente.

    Outro ponto que chamou atenção foi a falta de grade de proteção num trecho de uns 100 m, que começa perto do hotel Sheraton e vai até a entrada da favela.

    A ciclovia fica acima do nível da avenida, se alguém cair para o lado em que passam os carros em velocidade, pode ser atropelado.

    Falei do policiamento? Não tinha nenhum, além do único carro que fica na avenida, sem acesso à ciclovia. Se bandido resolver fazer bandidagem, não tem para onde correr.

    Dito tudo isso, quero deixar claro que adorei. Mas nessa primeira visita, procurei pelo em ovo e achei vários. Daqui pra frente, vou aproveitar a vista que, se não é a mais bonita do mundo, está entre as mais.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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