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    Mariliz Pereira Jorge

    Quem nunca brigou ou saiu na mão com uma mulher?

    03/03/2016 10h36

    Essa frase lembra o pré-candidato à Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira (PMDB-RJ), ao se defender das agressões à sua ex-mulher. No entanto, foi dita pelo ex-goleiro do Flamengo Bruno ao amenizar um barraco entre o jogador Adriano e sua namorada da época. Quatro meses depois, Bruno seria preso e posteriormente condenado a 22 anos de prisão pelo assassinato de Eliza Samudio.

    Em sua defesa, o deputado licenciado disse: "Quem não tem uma briga dentro de casa? Quem não tem um descontrole? Quem não exagera numa discussão? Às vezes, a gente fala coisas que não deve. Quem não tem isso? Quem não passa por isso?"

    O que os dois têm em comum? Devem achar natural "sair na mão", "exagerar", "ter um descontrole". Bruno continua preso e Pedro Paulo continua tentando enfiar goela abaixo dos eleitores sua candidatura. Acredita que todos devam achar natural brigar, se descontrolar, exagerar, dizer coisas que não deve.

    A cada dia que Pedro Paulo se defende do indefensável, fraudando as provas contra ele, ele agride novamente sua ex-mulher, ele agride sua filha, ele agride todas as moradoras da cidade que deseja governar.

    A cada dia que o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), vem a público defendê-lo, dizendo bobagens monstruosas, vem mais tapa na cara do eleitorado. Primeiro, afirmou que as denúncias eram "fofocas". Esta semana contemporizou ao dizer que é preciso "saber por que motivo Pedro Paulo agrediu a ex-mulher".

    Porque, claro, todo mundo sabe que dependendo do motivo uma mulher merece ser agarrada pelo pescoço, jogada contra a parede, socada e atingida por chutes, não é mesmo, governador?

    Em novembro, Pedro Paulo admitiu a agressão, em entrevista à Folha. Mas não foi uma única vez. Há três boletins de ocorrência. Desde lá, para não perder a boquinha, a história vem tendo mais reviravoltas do que um episódio de "Making a Murderer", série do Netflix.

    Alexandra, a ex-mulher, já mudou o depoimento várias vezes. Na semana passada, a Folha revelou que ela havia assinado e registrado em cartório duas versões diferentes. Em uma delas, diz que foi tudo invenção da sua cabeça. No outro, pasmem, diz que os ferimentos foram resultado de uma tentativa de agressão dela e que Pedro Paulo apenas se defendeu.

    O advogado de Alexandra afirmou que sua cliente assinou sem saber que se tratavam de documentos diferentes. Eu pergunto: ela assinou papéis em branco, que foram posteriormente recheados com informações convenientes ao pré-candidato? Ou seja, ele não fez nada, ela é a desequilibrada que ora inventa socos e pontapés, ora bate no marido, e agora assina embaixo que não apenas é mentirosa, mas a vilã da história toda. Até a babá que tinha visto tudo, agora não viu mais nada.

    Sinto profunda compaixão por mulheres com baixa renda e baixa escolaridade que apanham de maridos, permanecem em silêncio ou voltam atrás de suas denúncias. Muitas vezes se convencem de que mereceram o castigo, em outras dependem do homem para sustentar seus filhos. Em todos os casos não têm fôlego financeiro, social ou psicológico para levar uma acusação adiante. Mas uma mulher como Alexandra?

    Para completar essa história vergonhosa, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), não arreda o pé. E não dá uma explicação convincente do por quê. O que Pedro Paulo tem de tão especial que Paes coloca a eleição de seu sucessor em risco? Porque é óbvio que está em risco.

    A oposição vai deitar e rolar. Nem é candidato ainda, mas por onde passa Pedro Paulo arranca gritos de "espancador de mulher". Em um dos boletins de ocorrência, Alexandra contava que numa discussão dentro do carro foi chamada de "vagabunda" e "piranha", enquanto levava bofetadas. Tudo presenciado pela filha do casal, na época com dois anos.

    "Quem não tem uma briga dentro de casa? Quem não tem um descontrole? Quem não exagera numa discussão? Às vezes, a gente fala coisas que não deve." Muitos homens. Meu pai nunca encostou um dedo com violência em minha mãe, em mim ou em minha irmã, meu marido jamais foi agressivo. Tenho amigos e colegas que nem cogitam votar em Pedro Paulo por causa dessas denúncias.

    Não tem nada de normal numa briga que envolve violência. Não é natural se descontrolar. Não é aceitável que um homem exagere, grite, bata, machuque, violente, mate uma mulher. Não é concebível que uma pessoa tente criar uma rede de mentiras para tirar o seu da reta. O que separa Brunos de Pedros Paulos é uma cova.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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