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    Mariliz Pereira Jorge

    Ministério da Saúde deveria advertir: blogueiras fazem mal à saúde

    10/03/2016 02h00

    Um dia acordei, abri minhas redes sociais e deixei de seguir um balde de blogueiras. Blogueira de moda, fitness, do make perfeito, da bunda na nuca, do suco de luz, do quadradinho de oito, do cabelo lavado com vinagre, da comida ostentação, da volta ao mundo dormindo no sofá dos outros.

    Nada contra os blogs e muito menos contra as blogueiras, mas a vida de sonho e de perfeição que eles vendem não cabe no dia a dia e muito menos no bolso da maioria das pessoas. E o que deveria ser apenas uma fonte de inspiração, acaba se transformando numa cobrança sem fim.

    Você acorda e descobre que a blogueira-musa-fitness já acordou há horas, já lambeu o namorado, o cachorro, comeu tapioca com clara de ovo, malhou no calçadão, fez uma aula de bike, fez slackline, tomou banho, comeu batata doce, tomou três litros de suco de couve e agora está pronta pra abrir todos os jabás que recebe.

    E você lá, ainda com a cara amassada de travesseiro e com remela nos olhos, pensando que precisa ir ao supermercado porque acabou desinfetante e hoje é dia de faxineira. Depois tem dentista, precisa resolver o imposto de renda, responder emails, trabalhar, passar na lavanderia, recarregar o bilhete único e dar conta de um vida cheia de boletos pra pagar.

    Nesse meio tempo, você entra no Instagram e a blogueira-musa-fashion postou uma foto às 8h da manhã em que parece saída de um editorial de moda. Mas ela só foi comer um brunch, num restaurante lindo, onde as roupas dos garçons combinam com os guardanapos e as toalhas de mesa. Tudo tem legenda, claro. E assim que você joga no Google o nome daquela bolsa super fofa que a moça usou para ir ali na esquina, descobre que só a bolsa super fofa custa R$ 35 mil.

    Nessa hora, você ignora o cabelo de comercial da blogueira, arruma o seu numa chuca e tenta se concentrar em mais um frila para pagar mais um boleto. Enquanto espera o café sair da máquina, dá uma voltinha nas redes sociais. A blogueira de viagem faz a maior cara feia ao experimentar a comida de um lugar exótico. E nessa hora você morre de raiva e pensa que Deus dá, sim, asa à cobra.

    Só no dia anterior, a blogueira-musa-digital-influencer almoçou no Laguiole, visitou uma exposição, viu o pôr-do-sol no rooftop do Fasano, tomando Spritz, jantou no Lasai e emendou uma festinha no Clubhouse Rio. Ufa. E você vendo tudo isso e distribuindo likes na fila do quilo.

    O dia dessas pessoas consiste em ir ao cabeleireiro, ao massagista, ao acupunturista, provar roupas, tirar fotos pra revista, gravar Snaps, desfilar todos os dias um tênis novo, uma bolsa cara, um vestido must have, comer em restaurante-ostentação, viajar first class, frequentar festas badaladas, hospedar-se em lugares que você jamais passará nem na porta, filosofar sobre a vida, distribuir dicas de autoajuda e ainda dar uma choramingada para mostrar como a vida é dura, mas é mara.

    O dia dessas pessoas tem de sobra duas coisas que para a maioria de nós é contado: tempo e dinheiro. É claro que há blogs com conteúdo, cheios de informação relevante, que de fato podem fazer alguma diferença no nosso dia a dia.

    Não é o caso de muitos que só servem para nos mostrar um monte de coisas que não precisamos e que não temos dinheiro pra comprar, ou um estilo de vida totalmente incompatível com nossa realidade. Em alguns casos parecem mais satisfazer a vaidade pessoal de suas blogueiras do que levar algum benefício às pessoas que os acompanham.

    Parei de seguir e não senti a menor falta. Cheguei à conclusão que dá pra trocar várias blogueiras por linhaça e ter uma vida mais saudável emocionalmente.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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