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    Mariliz Pereira Jorge

    Vai, Portugal!

    25/06/2016 02h00

    Um clima de feriado na pequena Espinho, nos arredores da cidade do Porto, em Portugal, um dia após a seleção portuguesa empatar com a Hungria e se classificar para as oitavas de final da Eurocopa. Estava lá na porta do restaurante: informamos aos nossos estimados clientes que estaremos abertos quarta-feira para assim apoiarmos a nossa seleção. E fecharemos quinta-feira para vosso descanso.

    Achei simpático o estabelecimento fechar para que os clientes pudessem descansar porque, de fato, a torcida foi grande. Uma surpresa para nativos de um lugar onde torcedores e seleção andam com as relações estremecidas.

    Um grande telão foi instalado numa área pública de Espinho, essa minicidade às margens do Atlântico Norte. O espaço ficou lotado, assim como os restaurantes com suas TVs sintonizadas no jogo. As lojas fecharam as portas. Vi torcedores com camisas da seleção, alguns empunhando bandeiras. Todos vibrando, sofrendo, engolindo o grito de gol, para depois soltá-lo num êxtase coletivo. Que nostalgia, senti.

    A Eurocopa me fez ter saudade de quando era divertido torcer pelo Brasil, quando a camisa da CBF era apenas motivo de orgulho, quando tínhamos ídolos.

    Quinta (23), pós-jogo, a seleção portuguesa era assunto em todos os noticiários, que repetiam exaustivamente lances do jogo, gols, flashes da seleção que já treinava em Marcoussis, nos arredores de Paris. Torcedores que moram na capital francesa acordaram às cinco da manhã e enfrentaram duas horas de trânsito para ver o treino e "mostrar apoio ao time". Quem faria isso, hoje, pela seleção brasileira?

    Esses portugueses devem estar com a vida ganha. Não estão, evidentemente. Portugal tem a terceira taxa mais elevada de desemprego (12,2%) entre os países da Comunidade Europeia. E com o Brexit as coisas podem ficar um tanto pretas para parte dos 500 mil portugueses que vivem no Reino Unido. Metade não está registrada no serviço social britânico.

    A questão é que em Portugal, futebol é o que deveria ser: fonte de diversão e uma forma positiva e lúdica de exercer o nacionalismo. Junte isso ao fato de que a Eurocopa é uma minicopa do Mundo, com times bem armados, jogos emocionantes, e movimenta torcidas durante um mês inteiro do verão europeu.

    Para efeito de comparação, são dez cidades-sedes na França contra 12 no Brasil, que receberam cerca de 1,2 milhão de estrangeiros durante o Mundial. A expectativa do ministério de relações exteriores da França é que 1,5 milhão de pessoas do mundo todo passe pelo país por causa da Eurocopa.

    As cidades francesas têm estado em festa. Ruas e metrôs lotados de torcedores, e o vandalismo das torcidas parece ter sido contido com medidas duras. Cerca de 20 pessoas foram expulsas da França, 334 continuam presas.

    O clima de animação reverbera nos países participantes. Hoje, quando jogam Portugal e Croácia, haverá telões espalhados em todas as cidades. Bares e restaurantes oferecem programação e pacotes especiais para que os torcedores acompanhem os jogos em seus estabelecimentos. Virei Portugal desde criancinha, para aproveitar essa atmosfera de diversão que sabe-se lá quando a seleção brasileira vai nos proporcionar novamente. Vou até comprar uma bandeirinha.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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