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    Mariliz Pereira Jorge

    Dirigentes dos Jogos Olímpicos do Rio precisam afinar discurso

    23/07/2016 02h00

    É natural que as cabeças pensantes de um evento como a Olimpíada tenham um discurso positivo, mesmo quando os aspectos negativos ganhem mais destaque. O que chama atenção é o descompasso entre as declarações de alguns dirigentes.

    O diretor-executivo de comunicação do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio, Mário Andrada e Silva, escreveu na "Folha" ("Vamos à Lua", Tendências/Debates ) um texto ufanista, no qual afirma que os Jogos "são do bem. Trazem investimentos, oportunidades, sorrisos, empregos, mudanças".

    Além da mensagem otimista, ficou claro que Andrada e o presidente do comitê organizador da Olimpíada, Carlos Arthur Nuzman, precisam afinar o discurso. Nuzman disse recentemente que a Olimpíada nada tem a ver com o rombo no Estado nem com o metrô e que está sendo feita sem dinheiro público.

    Andrada cravou em seu artigo o envolvimento do Estado :"Se tivéssemos perdido a candidatura em 2009, R$ 75,8 bilhões em investimentos feitos no Brasil, de acordo com projeções da Fundação Getulio Vargas, estariam hoje em Chicago, Madri ou Tóquio". É público que 43% dessa conta quem está pagando somos nós, brasileiros.

    Nuzman também disse que "o metrô não fez parte do projeto". Para Andrada, "o projeto do metrô não teria saído do papel". Só no Google aparecem mais de 200 mil registros que relacionam a linha 4 ao legado da Olimpíada, incluindo os sites oficiais relacionados ao evento.

    Andrada parece no mínimo mais bem informado do que Nuzman, o que faz seu apelo despertar simpatia. Ele mostra os benefícios que a cidade vem ganhando com a realização dos Jogos (inegáveis, apesar dos pesares), e diz que "parar o bonde, pedir para descer, querer cancelar os Jogos... Nada disso existe".

    Mais do que o tom otimista, o que fica evidente é o pedido de socorro. O humor da população parece só piorar à medida que os Jogos se aproximam. Metade dos brasileiros é contra e 63% acreditam que teremos mais prejuízos do que benefícios, segundo o Datafolha. Esse índice era de 38%, em 2013.

    Como se não bastasse, a organização da Rio-2016 ainda tem que lidar com fogo amigo. Ora é o governador interino do Rio, Francisco Dornelles, ao decretar estado de calamidade pública, ora é o prefeito Eduardo Paes ao falar sobre a "terrível situação" da segurança do Rio.

    Com o "efeito Paes", 20 mil ingressos foram devolvidos. O estrago computado por causa de Dornelles chegou a 50 mil devoluções, segundo dados divulgados pelo jornal "O Globo", quinta (21).

    É uma corrida contra o tempo. A menos de duas semanas para a abertura da Olimpíada há 1,5 milhão de ingressos, apenas 76% dos 6,1 milhões disponibilizados foram vendidos. Londres vendeu 8,2 milhões dos 8,5 milhões disponíveis, meses antes do evento.

    A Olimpíada é um caminho sem volta. Bobagem bater o pé contra. Criticar a cidade-sede e a organização, mas apoiar os Jogos não são incompatíveis. Desde o meu primeiro texto no caderno "Esporte", em janeiro de 2015, posicionei-me a favor, sem afrouxar as críticas.

    Concordo com Andrada, "os Jogos Olímpicos são do bem". Nossas mazelas precisam ser combatidas e nossos governantes, cobrados. Mas os atletas que vêm aí não são os culpados e merecem respeito, apoio e incentivo.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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