Eu estava na Arena Olímpica quando a monstrinha Simone Biles ganhou a terceira medalha de ouro na ginástica, na Rio-16. Com 19 anos, essa menina já entrou para a história. Mas o momento mais emocionante foi presenciar a atleta do Uzbequistão Oksana Chusovitina participar de sua sétima Olimpíada, aos 41 anos.
Quando vi a idade de Oksana no telão, soltei um "nossa, 41 anos!", ao mesmo tempo em que me dei conta de que tinha acabado de pensar "nossa, que velha". Vergonha de mim mesma e das pessoas em volta que tiveram a mesma reação.
À noite, acompanhei a partida de handebol entre Angola e Espanha, e novamente vi meus preconceitos serem testados. A goleira angolana Teresa Almeida é gorda, pesa quase 98 kg. Está longe do biótipo ao qual estamos acostumados ver na maioria dos atletas.
Marko Djurica/Reuters | ||
A goleira angolana Teresa Almeida durante partida pelos Jogos do Rio |
Você olha o corpo e já imagina. Esse é nadador, aquele, halterofilista, jogador de basquete, ginasta. Teresa não se encaixa em nenhum dos modelos que meu HD interno foi registrando na vida. Ok, para alguns esportes, é bastante óbvio que o atleta não precisa ser sarado ou ter atestado de juventude. Mas, para outros, a ideia comum é que cada um seja um pouco deus grego.
A gente precisa agradecer o que uma Olimpíada pode fazer por nós. No fundo somos todos preconceituosos. Precisamos dar de cara com ídolos que não se encaixam nos padrões aos quais estamos acostumados ou nas historinhas bonitas que escrevemos mentalmente.
Teresa Almeida virou xodó da torcida porque desafia o establishment da barriga tanquinho e do bumbum na nuca, mas o mérito é dela, e não de quem a aplaude. Ao transformar isso num acontecimento, só mostramos como a maioria de nós não estava preparada para a "grande" Teresa, a ponto de transformá-la numa pequena bandeira contra o preconceito.
Escolhemos nossos ídolos baseados nos modelos que idealizamos. Se for preciso, ressaltamos só a parte que nos serve, porque tudo o que queremos são símbolos para reafirmar nossas convicções. Não pode prestar continência, não pode chorar, rebolar, não pode ter bolsa-auxílio, não pode errar, não pode ser tão gay.
Oksana disse que é chamada de "vovó", mas, se puder, estará em Tóquio-20. Entre emagrecer e ganhar uma medalha, Teresa Almeida obviamente escolheria a segunda opção. Vencer limites é pouco perto de tanta gente que ainda precisa superar estigmas.
Mas daí vem uma Olimpíada que tem pobre, rico, preto, asiático, gordo, magro, velho, adolescente e temos a oportunidade de ir derrubando cada preconceito que resiste dentro de nós. Quem sabe no final a gente consiga aplaudir qualquer atleta sem antes analisar seu currículo ou sua foto do perfil.
Thomas Coex/AFP | ||
Oksana Chusovitina, 41, durante final da ginástica artística |