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    Mariliz Pereira Jorge

    65,5% dos colégios da rede pública de ensino não têm quadras esportivas

    01/10/2016 02h00

    Edson Silva/Folhapress
    BURITIZAL, SP, BRASIL, 11-12- 2014: Quadra da Escola muniipal Dijalma Pimentel em Buritizal. Municípios da região de Ribeirão Preto tem aumento de 6,5% do PIB em 2012. Alguns município, no entanto, tiveram queda no produto interno. Buritizal, por exemplo, teve queda de 32% na criação de riquezas. ( Foto: (Edson Silva /Folhapress ) ***REGIONAIS***EXCLUSIVO FOLHA***
    Quadra de escola municipal em Buritizal, no norte do Estado de São Paulo, em 2014

    Você sentiu-se inspirado a fazer algum esporte por causa dos Jogos Olímpicos? Talvez seus filhos tenham pedido para praticar judô ou natação, afinal é natural que o espírito olímpico tenha causado algum efeito imediato nas pessoas.

    É muito cedo para avaliar se o incentivo à prática esportiva será um dos legados da Rio-2016. Mesmo o aumento na procura de atividades físicas nessa época do ano, verificado em academias e clubes, não pode ser considerado efeito imediato da Olimpíada. Em geral, setembro e outubro são meses em que as pessoas se preocupam em ficar em forma para o verão.

    Mas um dos pontos do projeto que pretende mudar a educação no país virou uma enorme polêmica porque envolve o fim da obrigatoriedade da disciplina de educação física. Muitas pessoas contestam a decisão. Logo após a Olimpíada? Justamente num momento em que a obesidade já é considerada problema de saúde pública no Brasil.

    São questões pertinentes, mas precisamos olhar com objetividade o problema e avaliar se temos soluções eficientes. Sobre o legado, vamos pegar o exemplo mais recente, Londres. Terminados os Jogos, um levantamento pedido pela BBC mostrava impacto positivo no comportamento dos moradores do Reino Unido. Inspirados pelo espírito olímpico, 11% disseram que estavam mais ativos. O número era ainda mais alto entre pessoas de 18 a 24 anos, 24% a mais de praticantes de esporte.

    No entanto, outro estudo feito entre outubro de 2012 e abril de 2013 mostrava uma queda significativa do número de praticantes justamente entre os jovens. Muitos pesquisadores dizem que a oscilação acontece porque o entusiasmo é passageiro. Adrian Bauman, da Universidade de Sydney, por exemplo, analisou os Jogos de verão e de inverno desde a Olimpíada na Austrália, em 2000, e afirma que não há "efeitos significativos" no engajamento da população das cidades-sede em atividades físicas.

    Não sabemos ainda se os espaços esportivos construídos para a Rio-2016 servirão de fato à população, o que seria o primeiro passo, criar condições para que crianças e adolescente se interessem pelo esporte. É aí que entra a questão polêmica do fim da obrigatoriedade da disciplina de educação física nas escolas.

    Apesar da obrigatoriedade, a maioria dos alunos não encontra os meios necessários para a prática. É chocante saber que 65,5% dos colégios da rede pública de ensino não têm quadras esportivas, seis em cada dez unidades, segundo dados do Censo Escolar 2015.

    No Rio de Janeiro, sede dos Jogos, o índice é de 48,5%.

    Acre e Maranhão são os Estados com a pior situação, 90% das escolas do ensino básico não tem um único espaço para prática de atividade física. É um número escandaloso de crianças privadas da opção de praticar uma atividade que hoje é obrigatória no currículo escolar. As escolas fingem que dão as aulas, os alunos fingem que praticam.

    Se incentivar a prática de atividades físicas era um dos legados da Rio-2016, já começamos mal. Para a maioria das crianças que frequenta escola pública a pergunta é: praticar onde? A questão da obrigatoriedade da educação física precisa ir além do ser a favor ou contra, temos que saber como hoje ela é feita, e o que de fato precisa ser mudado para que seja eficiente.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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