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    Mariliz Pereira Jorge

    Legado mais concreto que Eduardo Paes deixa para o Rio é Crivella

    05/11/2016 02h00

    Eduardo Paes vai para Nova York, já procura escola para os filhos, dará aulas na Universidade Columbia e receberá por isso. Que beleza, hein? Mas o prefeito está em depressão.

    Se eu tivesse a faca e o queijo na mão e resolvesse usar uma colher para cortar o queijo, realmente estaria em depressão. Não deve ser fácil para um prefeito apavonado como Paes reconhecer que, depois de ter reinado durante eventos de sucesso como a Copa do Mundo e a Olimpíada, o eleitorado tenha lhe dado as costas e ainda coloca em sua conta o resultado da eleição.

    Não foram os pobres quem elegeram Crivella. Tampouco seria a Zona Sul carioca responsável por uma eventual vitória de Freixo. Paes, vai que é sua. A eleição de Crivella tem o seu aval, a sua prepotência, a sua arrogância. E como o prefeito gosta tanto de falar em legado, que fique registrado que o mais concreto de sua gestão, aquele que pode ser medido mesmo antes do final do seu mandato, é a eleição de Marcelo Crivella.

    Em março deste ano, quando Pedro Paulo Cunha nem era candidato oficial, perguntei nesta coluna: o que ele tem de tão especial que Paes coloca a eleição de seu sucessor em risco?

    É impressionante que fosse tão óbvio para todo mundo, menos para Paes e seus assessores, que um candidato que arrancava gritos de "espancador de mulher" por onde passava não chegaria ao segundo turno.

    Não é possível que um político possa ser tão desconectado da realidade a ponto de achar que tudo bem seu candidato ser acusado de chamar a mulher de "vagabunda", "piranha", enquanto "levava bofetadas", como consta nos boletins.

    Paes fez tudo certo, menos a escolha de seu sucessor. Conheço dezenas de pessoas que, mesmo críticas a Paes, dizem que ele foi o melhor prefeito que o Rio já teve. Todos, sem exceção, diante das opções disponíveis, votariam em um sucessor indicado por ele, que fosse minimamente decente. Um poste teria se saído melhor.

    O Rio viveu sete anos em estado de glória desde quando venceu a disputa para sediar a Olimpíada. Na foto da comemoração, além de Paes, aparece todo sorridente seu então secretário Carlos Roberto Osório, preterido por ele na disputa à prefeitura.

    As apostas são de que Osório teria mais chance de chegar ao segundo turno e que massacraria qualquer um dos candidatos. Diante da quantidade de votos nulos, brancos e de abstenções, alguém duvida?

    Com o escolhido do prefeito fora do combate, pouco se falou da transformação pela qual a cidade passou nos últimos anos e o que acontecerá com o Rio pós-Olimpíada. Nas poucas vezes em que os candidatos foram questionados, as respostas variaram de "vamos rever os contratos" a "não vamos romper os contratos".

    É muito pouco. Bilhões foram investidos no evento com a promessa de que a população se beneficiaria, para que isso não fosse uma das principais pautas discutidas em debates e nas propostas de campanha.

    E Paes com isso? Vai para Nova York depois da sucessão. Aquela mesma cidade que os turistas não deveriam esperar encontrar ao chegar ao Rio, segundo ele. Numa coisa, ele tem razão: Nova York não é o Rio, é infinitamente melhor para seus moradores, que não poderão recorrer ao mesmo exílio voluntário.

    Fica, Paes, prestigia esse legado.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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