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    Mariliz Pereira Jorge

    Neymar: sonegador ou benfeitor?

    26/11/2016 02h00

    Uma notícia que repercutiu na imprensa inglesa foi a atitude do jogador brasileiro Rafael da Silva, ex-Manchester United, atual lateral-direito do Lyon. Enquanto se recuperava de uma lesão, Rafael doou seu salário a OL Fondation, projeto social do clube que atende crianças com câncer.

    Não sei o que achei mais formidável. Um clube de futebol ter um projeto dessa natureza ou o senso de responsabilidade social de Rafael. Jogadores de futebol, é verdade, estão entre os maiores benfeitores. Cristiano Ronaldo encabeça a lista do mundo esportivo, que tem nomes como Serena Williams, LeBron James e Neymar, na quinta posição do ranking da generosidade e único brasileiro entre os primeiros 20.

    É um feito e tanto. Mas esse lado consciente do jogador é o menos conhecido do público. Apenas o Instituto Projeto Neymar Jr. (INJR), aberto em 2014, atende 2.400 crianças carentes.

    A imagem do atacante, além de um grande craque, é de um jovem vaidoso e marrento, com pouca habilidade para lidar com críticas e os difíceis momentos da seleção. Mais recentemente outro carimbo vem colando em seu currículo: o de sonegador.

    Não há dúvida de que ele entrará para a história como um dos maiores craques do futebol mundial. Por enquanto, mais pelo que fez pelo Barcelona do que pela seleção ou algum time brasileiro. O que certamente estará em sua biografia não-autorizada será o capítulo que fala de corrupção e fraude fiscal envolvendo sua carreira.

    Em março, a Justiça Federal bloqueou R$ 189 milhões da conta do jogador, acusado de sonegação fiscal, inclusive da transação de seu passe entre o Santos e o Barcelona.

    Esta semana, o jogador voltou ao noticiário porque o Ministério Público da Espanha pediu a sua condenação a dois anos de prisão e ao pagamento de cerca de R$ 36 milhões no processo em que é acusado de fraude no processo de transferência para o clube espanhol.

    O caso é bastante complexo e envolve outras pessoas. Neymar e sua família negam as acusações, claro. Mas é difícil acreditar que órgãos reguladores de dois países estejam errados em suas demandas.

    A questão é: até que ponto o jogador tem controle das transações feitas em seu nome? É sabido que muita gente tem zero habilidade para lidar com números, contratos, leis, e acaba deixando tudo sob responsabilidade de terceiros. É possível que Neymar não soubesse dos detalhes que agora levam seu nome e sua reputação para a lama. É possível, mas...

    Porque embora, como já foi dito, outras pessoas tenham sido responsabilizadas, o que fica de fato manchado é o nome do jogador, que nem é o único a se enrolar com o fisco. Nomes como Lionel Messi, Xabi Alonso, Javier Mascherano, Daniel Alves são alguns, para citar casos mais recentes. Todos jogam no futebol espanhol.

    Num passado recente, um jogador como Neymar ser pego trapaceando o fisco poderia ser considerado menor num país em que as pessoas arranjam desculpas para suas próprias derrapadas, mas estamos fartos do jeitinho brasileiro. Chega de gente que quer se dar bem, principalmente quando falamos em milhões, meus amigos, milhões. Não é dinheiro para colocar feijão em casa. Resta saber se Neymar quer ser lembrado como um craque benfeitor ou um mero sonegador?

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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