• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 15:01:14 -03
    Mariliz Pereira Jorge

    O Brasil dançou, mas há de chegar o dia em que a corja vai dançar também

    10/06/2017 02h00

    Jason Reed/Reuters
    Football Soccer - Argentina v Brazil - International Friendly - Melbourne Cricket Ground, Melbourne, Australia - 09/06/17 - Brazil's Philippe Coutinho in action. REUTERS/Jason Reed ORG XMIT: YLE143
    Philippe coutinho tenta jogada durante amistoso entre Brasil e Argentina nesta sexta (9), na Austrália

    O jogo foi acirrado na sexta (9) e, com uma pontinha de esperança, acompanhamos lance a lance, de olho no placar, torcendo com o coração. Quisemos acreditar que venceria o melhor, que a justiça seria feita, mas nossa defesa falhou.

    Essa derrota que o brasileiro amarga hoje lembra um tanto o gostinho azedo da Copa de 1982, quando nossa seleção era um timaço.

    O amistoso do Brasil contra a Argentina? Ninguém falou, pouca gente viu, ainda mais porque a TV Globo, parceira da CBF durante anos, além de não ter transmitido, ignorou solenemente o jogo. Bem feito.

    Todo mundo estava mais preocupado com o placar do julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Terminamos a semana ovacionando um baita atacante que foi revelado, o ministro Herman Benjamim, relator do processo. Que craque, senhores, que craque. A cada final de sentença, sentia vontade de gritar "goooooool".

    É nesse Brasil de Herman Benjamim que os brasileiros merecem viver. Não queremos mais ser a nação da "Bola Fora", essa que no mesmo dia viu um mandado de busca e apreensão ser cumprido pela Polícia Federal na residência do vice-presidente da CBF Gustavo Feijó e que prendeu Felipe Feijó, presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF) por posse ilegal de arma. O sobrenome não é coincidência. Trata-se de Bob Pai e Bob Filho.

    Bola Fora é o nome da operação que investiga caixa 2 na campanha eleitoral de Gustavo em 2012 à prefeitura de Boca da Mata (AL). Adivinhem de onde a PF afirma ter saído a bagatela de R$ 200 mil que ajudou a eleger o cartola? Das burras da CBF com aval do presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, que aparece numa troca de e-mails, segundo as investigações.

    Feijó não é um qualquer, claro. Ele foi o chefe da delegação brasileira na Olimpíada. É uma boa notícia, porque dá uma baita esperança de que parte de nossas instituições estejam funcionando e chegando perto de quem mais interessa.

    A outra boa notícia é que a operação Bola Fora é um desdobramento da CPI do Futebol, que começou em 2015 e, como sabemos, acabou arquivada. Mas quero acreditar que a PF não é boba nem nada, joga pelos cantinhos e logo mete um golaço que o país inteiro vai comemorar.

    Sobre o Brasil e Argentina, perdemos de 1 a 0. Mas o pior são os bastidores. A entidade pagou para transmitir o jogo por TVs públicas e pela internet. Cerca de 150 mil pessoas assistiram à partida ao vivo, que até sexta à noite tinha sido vista por quase 2,9 milhões de internautas. E não adianta dizer que para internet o resultado foi bom. Não foi. O clipe "Paradinha", da cantora Anitta, lançado na semana passada, já teve quase seis milhões de visualizações. Que fase, hein, CBF?

    Esse pessoal se acha muito esperto, mas faz cada coisa e depois reclama quando a imprensa fala mal.

    Não bastasse a torcida do locutor e dos comentaristas contratados, dando aquele clima festivo de pelada de fim de ano da firma para agradar os donos, o "repórter" em campo era assessor de imprensa da entidade. Perdi a noção de quantos gols em apenas um jogo a CBF fez contra a própria seleção.

    E segue o baile. Sexta foi o dia em que o Brasil dançou, mas há de chegar o dia em que a corja toda vai dançar também. Na política e no esporte.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024