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    Mariliz Pereira Jorge

    Único desejo para 2018: ver mais a família e os amigos

    28/12/2017 16h35

    Ari Versiani - 31.dez.2011/AFP
    Casal observa queima de fogos durante Réveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro
    Casal observa queima de fogos durante Réveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro

    Há um provérbio maori que diz o seguinte: "Qual é a coisa mais importante do mundo? São as pessoas, são as pessoas, são as pessoas." Vai aqui na língua dos nativos neozelandeses, para os mais puristas: He aha te mea nui o te ao. He tangata, he tangata, he tangata.

    Há uns anos estive duas vezes na Nova Zelândia num espaço curto de tempo. Dei de cara com essas palavras numa plaquinha, vendida numa dessas lojas para turista. Não comprei e me arrependo para sempre e já pensei até em fazer uma tatuagem, mas tenho medo de me arrepender para sempre.

    Na segunda vez, a tal frase estava no barco em que velejei na virada de 2003 para 2004. Em meio à paisagem esplendorosa da Baía das Ilhas, várias embarcações ancoraram lado a lado, o que possibilitava que os passageiros passassem de um para o outro, transformando o lugar numa festa flutuante.

    Conheci alguns velejadores que já tinham passado pelo Brasil durante as paradas da Volvo Ocean Race, a regata que dá a volta ao mundo. Todo gringo lembra de duas coisas, da palavra "obrigado" e de caipirinha. Em poucos minutos, eu tinha sido escalada para preparar a bebida com os limões coletados nos barcos em volta. Foi um dos melhores Réveillons de que tenho lembrança. Guardo fotos em que apareço abraçada a pessoas das quais não me lembro o nome ou mesmo quem eram, mas jamais vou esquecer da recepção calorosa que recebi lá do outro lado do mundo. Foi na Nova Zelândia, mas poderia ter sido em Iguaba. O que faz a diferença são as pessoas.

    Elas é que são capazes de transformar a nossa experiência de vida. São elas que nos ajudam a olhar para trás e perceber que mesmo o pior dos anos pode ser mais leve quando estamos rodeados por aqueles que nos preenchem com afeto e nos dão suporte emocional.

    E ao dar de cara com 2018 batendo na porta, tenho apenas um desejo para o ano que começa jajá: que eu possa ver mais minha família e meus amigos.

    Que não me falte dinheiro para viajar e comemorar os aniversários dos meus pais, que moram longe. Ou passar alguns dias com minha mãe em algum lugar desse mundo para que ela saiba o quanto valorizo nossos momentos. Que eu possa dizer "sim" a todos os convites de festas, na Barra da Tijuca, em São Paulo, em Salvador ou Cartagena. Que eu tenha sempre uma reserva para embarcar num avião para dar colo a alguém querido que apenas precisa desmoronar dentro de um abraço apertado. Ou dividir segredos e angústias que só ombros amigos são capazes de carregar.

    Que eu tenha tempo para jogar conversa fora pelo telefone, por Skype ou por meio de qualquer outra dessas maravilhas da tecnologia que nos aproximam e permitem que a saudade, se não mate, apenas aperte. Quero deixar reuniões para depois e priorizar os chamados banais das pessoas que ligam para comentar coisas desimportantes, mas que pensaram em mim. Que eu tenha a capacidade de rir com aqueles que me são tão especiais, no meio da correria do dia a dia. E que ela não atropele o desejo e a atitude de estar presente na vida de quem mais gosto.

    Que eu consiga banir de vez do repertório a tenebrosa frase "vamos marcar um jantarzinho" e suas variáveis "a gente precisa se ver", "vamos nos falando". Quero dizer mais "eu posso", "estou livre", "chego em 10 minutos", "já peguei mesa", "chega logo que já pedi a entrada".

    Quero poder aceitar convites para almoços longos, mesmo que no meio da semana. Que eu possa largar tudo o que eu estou fazendo quando o outro precisa e não apenas quando tenho tempo. Pode ser para um chope gelado, para ajudar na mudança, pendurar uma prateleira, recolher os caquinhos de um coração partido, escolher a decoração do chá de bebê, ser parceira num trabalho comunitário.

    Não quero conhecer recém-nascidos que já completaram um ano, entregar o presente do ano que passou no próximo aniversário, prometer pelo menos uma passadinha, jurar que da próxima vez fico mais tempo. Não quero deixar o presente para o futuro.

    Que eu apenas tenha urgência em 2018 para ter o que é realmente importante, o que nos ajuda a levantar quando caímos, que celebra quando estamos felizes e nos motiva quando perdemos as esperanças, que nos empresta dinheiro quando nos falta, que manda uma receita de remédio quando a saúde baqueia: as pessoas. As pessoas. As pessoas. As pessoas. Para todo restante a gente se vira.

    Feliz 2018 a todos.

    mariliz pereira jorge

    É jornalista e roteirista.
    Escreve às quintas e sábados.

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