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    Mario Sergio Conti

    Odebrecht e Lula são implodidos junto ao congelamento dos investimentos

    11/10/2016 02h00

    Danilo Verpa/Folhapress
    Lula durante o 1º pronunciamento após ser denunciado pela Operacão Lava Jato
    Ex-presidente Lula durante o primeiro pronunciamento após ser denunciado pela Operação Lava Jato

    O avanço da Lava Jato contra a Odebrecht e Lula se combina com o congelamento dos investimentos públicos por duas décadas. Os três fatos, que alvejam em cheio a empreiteira e o PT, marcam uma reconfiguração total na política e na economia.

    Um lance inicial dessa confluência tríplice se deu em 1994. O real fora lançado, mas ainda não mostrara o seu potencial para alavancar a campanha de Fernando Henrique ao Planalto, no final do ano. Foi quando Emílio Odebrecht quis conversar com o candidato do PT, Lula.

    O encontro se deu na casa de alguém da confiança de ambos, o francês Jacques Breyton. Herói da Resistência ao nazismo em Lyon, ele ajudara a ALN nos anos 60, fora fundador do PT –e era empresário. Um Lula arredio foi à reunião com José Dirceu. Como faz quando mais escuta do que fala, cofiou o bigode boa parte do tempo.

    Odebrecht lhes disse que queria entender a visão do partido quanto ao lugar da iniciativa privada no desenvolvimento; o papel do Estado nas obras de infraestrutura; e a possibilidade da criação de um mercado interno de massa.

    Para o empreiteiro, esses pontos formavam o tripé de um projeto nacional. A sua empresa, afirmou, queria participar dele. José Dirceu lhe respondeu que a postura do partido era parecida, e fundamentou-a com dados sociológicos e históricos.

    Pouco depois das despedidas, os petistas concordaram que deveriam se aproximar do setor do empresariado representado por Odebrecht, a construção civil. Porque tinham maior identidade com ele do que com bancos e multinacionais.

    A direção do PT sabia bem que uma burguesia só fica grande quando obtém mercados fora de seu país. E a Camargo Corrêa fizera Itaipu no Paraguai. A Mendes Júnior abrira estradas e ferrovias no Iraque, para onde levara dez mil funcionários.

    A Odebrecht atuava em 21 países, a maioria na América Latina e na África.

    Um militante notou que os dois maiores candidatos da sigla (Dirceu disputava o governo paulista) haviam conversado cordialmente com um potentado, com o qual compartilharam objetivos de longo alcance –e não pediram contribuição para as suas campanhas.

    A questão lhes era vital. A legislação impedia o PT de se manter por meio dos sindicatos, que historicamente cacifaram os social-democratas na Europa. Mas estar à esquerda não era um empecilho absoluto.

    Tanto que Emílio Odebrecht recebera PC Farias e a mulher, Elma, para jantar na sua casa. Sergio Andrade, dono da Andrade Gutierrez, levara o mesmo PC de jatinho a Cuba, onde entabularam negócios com Fidel.

    Como o capital não tem ideologia, a Odebrecht veio a capitanear o setor que, anos depois, selou a aliança entre o capital e o trabalho, iniciada na casa de Breyton. O PT se tornou parte orgânica de um sistema político e econômico moldado pelas empreiteiras.

    O capital, porém, também não tem pátria. Toda a legislação contra a corrupção, na qual a Odebrecht e o PT ora se enredam, não é uma invenção brasileira.

    Ela foi criada pelos Estados Unidos, que a propagaram pelo mundo. O interesse foi que firmas americanas atuassem no exterior sem enfrentar a concorrência da corrupção local.

    Com a implosão da construção civil autóctone, empreiteiras do exterior terão de fazer obras públicas aqui. Isso só se dará no dia em que grandes obras voltarem a ser construídas. Daqui a duas décadas. Quando Lula e Emílio Odebrecht, é provável, estiverem mortos.

    mario sergio conti

    Autor de 'Notícias do Planalto', obra que dissecou as relações entre a Presidência de Fernando Collor e a imprensa, começou sua trajetória como jornalista na Folha em 1977. Escreve quinzenalmente aos sábados.

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