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    Marta Suplicy

    Calafrios

    08/05/2015 02h00

    Faz um mês, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, em audiência pública no Senado, me respondeu que as condições climáticas diferenciadas levaram a um adiantamento do início dos casos de dengue. Assim como o armazenamento de água pela população teria auxiliado na proliferação do mosquito transmissor da doença.

    Discutível. O pesquisador Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz, um dos nossos principais estudiosos sobre dengue no país, explicou que nenhum dado ou pesquisa mostra efetiva relação entre a crise hídrica e o avanço da doença.

    Vacina seria melhor solução, apontou o ministro. Entretanto, o último pedido de análise do Instituto Butantan para a fase 2 de sua vacina demorou 18 meses na burocracia da Anvisa. Isto apesar do diretor do Instituto, Jorge Kalil, ter insistido em agilidade junto ao então ministro Alexandre Padilha. A mesma urgência foi discutida com Chioro.

    Com a mídia noticiando diariamente a situação de epidemia, a Anvisa promete, agora, rapidez. Os dados são estarrecedores! Dá calafrios imaginar quão despreparados estamos para lidar com doenças epidêmicas. E quão desamparados estamos todos.

    A cada cinco minutos uma pessoa é contaminada pela dengue no Brasil. Sete Estados já vivem índice considerado epidêmico. São Paulo é o primeiro em mortos (169 casos, sendo que 9 em cada 10 eram idosos). Ontem a cidade de São Paulo entrou na lista de "situação epidêmica".

    É uma cadeia de irresponsabilidades: falta de atenção ao problema anunciado (chuvas etc.), como consequência o não planejamento da prevenção e a situação de calamidade. Não como especialista, mas como ex-prefeita e senadora, compartilho o que penso. São necessárias pulverizações, operação cata bagulho, mutirão de limpeza... Mas, o principal fator de sucesso, além de vacina, é a cooperação da população no combate ao mosquito.

    A cidade tem que se transformar numa grande brigada, com a presença da administração pública nas ruas, nas visitações, estimulando e conversando com as vizinhanças sobre a necessidade de todos cuidarem da limpeza.

    A mídia é gratuita pois a imprensa tem responsabilidade e interesse em cobrir tal atividade, e o assunto continua no jantar da família e prolifera em ações. As escolas também têm que ser ativadas pois os alunos são grandes colaboradores. Lembro de crianças saindo pelo quarteirão a procurar pneus, vasos, entrando em ferro velho... Uma brincadeira útil que continuava nas próprias casas vistoriando a caixa d'água e os vasos da mãe.

    Já passou da hora de uma conscientização séria para a mobilização de todos em torno de ações concretas.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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