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    Marta Suplicy

    É inexorável

    03/07/2015 02h00

    Penso na escravidão e nos arrepios que tal prática nos causa hoje, nas mulheres sem direito ao voto ou a frequentar universidade, no banho de mar no qual as pessoas se apresentavam cobertas, no escritor inglês Oscar Wilde, que em 1895 foi condenado à prisão por ser homossexual, e em Mário de Andrade, que hoje homenageamos e sobre o qual se descortina o que à época não podia ser assumido.

    Pense na marginalização das desquitadas nos anos 1950, e como a mudança em relação à liberdade do indivíduo é um processo que não pode ser contido.

    É Obama nos EUA, mulheres nas universidades, o divórcio, as novas configurações familiares e agora a Suprema Corte norte-americana decidindo que os tribunais estaduais do país não podem declarar ilegais ou inconstitucionais uniões homoafetivas.

    Os EUA viveram diferentes momentos de conquistas. Em 1969, marco da rebelião contra a violência com gays, o fim do "don't ask don't tell" na política do serviço militar, assim como brigas ferrenhas nos Estados para obter o direito ao casamento civil.

    As campanhas de Obama e agora Hillary são distintas e de acordo com a mudança de opinião do eleitorado, que aumentou a aprovação ao tema em cerca de 20 pontos percentuais, entre 2008 e 2012.

    Obama foi do "estou em evolução" da primeira campanha ao apoio público na reeleição e ao festejo hoje. Hillary, que já se posicionou contra, agora apoia com entusiasmo. Mudaram. E não creio que foram só interesses eleitorais. As pessoas mudam a partir de novas informações e situações a serem enfrentadas.

    No Brasil, a conversa aberta sobre homossexualidade avançou com o programa "TV Mulher", em 1980. A clandestinidade sexual era grande, pois o preço familiar e social era altíssimo. Continua, mas de forma diferente depois de o tema ter chegado em 1995 ao Congresso Nacional, onde foi debatido em inúmeras audiências e entrou nas novelas e talk shows. A reação conservadora veio rápida, o projeto que era de parceria civil entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado nas Comissões e encontra-se parado até hoje. O Judiciário avançou nas sentenças e a decisão do Supremo Tribunal Federal pela legalização da união estável com todos os direitos civis ocorreu em 2011.

    Na Câmara dos Deputados, temos um presidente contrário à causa gay, e no Senado o PL 122, de combate à homofobia, foi absorvido pela comissão de reforma do Código Penal, mas de lá sumiu. Apresentei emendas e mais senadores também, para retomar essa questão no Código Penal.

    A evolução tem inflexões, mas a realidade mostra que o progresso é inexorável. A sociedade moderna tem a felicidade como um sonho a ser vivido. E por todos.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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