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    Marta Suplicy

    Renovação e vida

    11/09/2015 02h00

    O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, trocou o demissionário ministro da Defesa por outro membro de seu partido Fidesz e manteve a linha dura, afirmando que a Europa precisa "proteger suas fronteiras cristãs". Longe está a Hungria de 1989, o primeiro país a receber os que vinham da Alemanha Oriental e cruzavam aos milhares suas terras para chegar à Áustria e à Alemanha Ocidental.

    Há tempo, o mundo acompanha as notícias da guerra na Síria, o acampamento de refugiados na Turquia, os problemas nos países africanos... O Haiti saiu das manchetes mundiais e entra nas nossas quando ocorre uma situação mais complicada com os refugiados que chegam a São Paulo.

    A morte e a imagem na praia do pequeno Aylan Kurdi viralizaram e levaram a ações generosas de acolhimento. O papa pediu que as paróquias da Europa acolhessem refugiados e vários países resistentes à ideia de uma cota de refugiados cederam à pressão.

    Merkel, talvez pela sua história pessoal, originária da Alemanha Oriental, foi a primeira líder a entender que estava diante de um fenômeno que se caracteriza como o maior fluxo migratório desde a Segunda Guerra Mundial, quando milhões de pessoas se deslocaram para o Ocidente fugindo de Stalin.

    Acolher milhares, como acontece agora, significa enorme impacto nos gastos com o provimento de escolas, de saúde, de sustentação e de geração de empregos para tantos que não se comunicam na língua do país. Muitos sentem seu emprego ameaçado, e o xenofobismo cresce.

    Na França, os imigrantes ilegais, provenientes na maioria da África, adaptaram-se ao subemprego, mas as gerações seguintes, de certa maneira aculturadas, já se sentiam franceses e sem perspectiva de vida melhor. Riots, incêndios, manifestações são fruto dessa não assimilação.

    Além dos problemas gerados pelo uso da burca das imigrantes muçulmanas e repudiado pelos franceses como discriminatório. Esses exemplos já sinalizam para os problemas que virão.

    A solução de longo prazo não está só no aculturamento adequado, muitas vezes compreensivelmente resistido, mas no esforço gigantesco que será necessário empreender em diplomacia e em recursos com foco em romper com o desemprego, a pobreza, o analfabetismo e outros problemas estruturais do Oriente Médio. Além que, sem a presença de forças bélicas estrangeiras, como já está ocorrendo, o problema do Oriente Médio dificilmente será resolvido.

    Historiadores têm lembrado que a Europa vive e foi formada por incessante migração ao longo dos séculos. E que, ao contrário de um desastre, o sangue novo traz o progresso, a renovação e a vida.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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