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    Marta Suplicy

    O papa e dom Paulo

    18/09/2015 02h00

    O papa é um revolucionário, com armas mais potentes que qualquer arsenal nuclear. Ele tem o dom da palavra certa, do "timing" perfeito para a intervenção, a humildade necessária e é chefe de um dos maiores exércitos do mundo. Sua fala generosa, solidária e tolerante repercute muito além dos fiéis.

    A última encíclica papal "Laudato Si", com tema ambiental, vem com este jeito verdadeiramente aberto ao diálogo –tão longe dos dogmas!– que nos faz ter a esperança que a humanidade possa estar num caminho para seus desacertos. Tem a força do alerta em como a miséria é agravada com a degradação ambiental, além de tocar nos pontos mais sensíveis da questão da biodiversidade, da água, da condição inumana das grandes cidades, o perigo da substituição do relacionamento humano pelo isolamento tecnológico e a tragédia dos refugiados.

    Não sobra tema contemporâneo relevante que Francisco (desculpem a intimidade, mas estou me reconciliando com minha fé) não se coloque, questione e aponte caminhos. Mais importante, enfatiza a responsabilidade individual de cada um.

    O artigo de hoje é para homenagear um ser humano, do naipe do papa Francisco: dom Paulo Evaristo Cardeal Arns. Este é o nome do livro que será lançado dia 4 em São Paulo, resgatando a história de quem tanto fez pelo Brasil, pelos pobres e pelo povo da minha cidade.

    O que chama mais atenção na história de dom Paulo, hoje com 95 anos, e que estará presente neste dia na Paróquia São Francisco de Assis, é sua simplicidade, determinação, apego aos mais necessitados e acima de tudo, coragem pessoal. Não à toa dom Paulo tem 38 títulos de cidadão honorário, 43 medalhas, 31 prêmios, 24 diplomas honoris causa. Valoriza as mulheres e acreditou no ecumenismo, incentivando o diálogo inter-religioso na Sé.

    A teologia da libertação, que provocava tanta resistência nas forças mais conservadoras, foi abraçada por dom Paulo, ajudando no processo de conscientização dos marginalizados e novas formas de reivindicação. Criou mais de 2.000 Comunidades Eclesiais de Base e este foi um enorme apoio, pois simbólico (antiditatorial), político (protegeu os perseguidos políticos) e material (forneceu as condições, inclusive disponibilizando pessoas intelectualmente preparadas).

    Os grandes do mundo que se preocuparam com os carentes, as famílias brasileiras atingidas pela perseguição da ditadura, os que lutaram pela Anistia e os mais pobres de São Paulo sabem de sua grandeza e a diferença que pode fazer um cardeal da Igreja destemido e engajado nas grandes causas e a influência libertadora e visionária de um grande papa.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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