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    Marta Suplicy

    Oxente!

    09/10/2015 02h00

    No dia 8 de outubro, a cidade de São Paulo e o Brasil comemoram o Dia do Nordestino. A data reforça o reconhecimento que a cidade presta à população de migrantes nordestinos e seus descendentes.

    A partir de 1930, quando diminuiu o fluxo maciço de imigrantes europeus, trazidos pela grave crise econômica, escassez de investimentos e excedente populacional, os nordestinos foram chamados como mão de obra. Em 1949, com a conclusão da Estrada Rio-Bahia, surgiu o "pau de arara".

    A região metropolitana foi a que mais acolheu nordestinos, que contribuíram com 56% do crescimento da população nos anos 60.

    Os migrantes continuam importantes para a cidade. O Brás, além de antigo reduto italiano, é hoje um bairro com cultura e hábitos nordestinos. Assim como Parelheiros, São Miguel Paulista e Santo Amaro.

    Os depoimentos de nordestinos que moram há anos em São Paulo revelam o empreendedorismo dos muitos que venceram, como o baiano Aelson Mota, que fundou o Forró Bahia. "A cidade dá oportunidades para você crescer e tirar o seu sustento. Nós somos bem acolhidos. Sofremos preconceito, mas somos um povo guerreiro que vai à luta."

    Gerimário Ricardo de Araújo, pernambucano, que está há 45 anos na cidade e tem uma casa de comida nordestina, acredita que o preconceito diminuiu muito –só 20% de sua clientela, hoje, é nordestina. Luiza Erundina, paraibana, se tornou a primeira prefeita de São Paulo. Assis Chateaubriand, José Ermírio de Moraes, Mário Schenberg ajudaram a fazer de São Paulo uma referência. Luiz Inácio Lula da Silva forjou sua carreira política no ABC paulista.

    São milhares os anônimos que ajudaram a construir São Paulo e que agora, com os "ajustes" governamentais, inflação, queda do emprego, diminuição dos já precários serviços públicos essenciais (principalmente saúde), vão pagar a conta do descalabro econômico criado pelo governo petista. A construção civil, que emprega a população mais pobre, já foi atingida com as grandes obras parando. A desistência de 30% de pessoas que compraram imóvel na planta e não conseguem pagar mostra que a crise chegou na classe média. O brasileiro está endividado, sem crédito e perdendo os empregos que a ascensão conquistou.

    E, para coroar, vem a proposta de uma nova CPMF, que é tudo que o investidor não quer e que afeta mais o assalariado. Hoje não existe a mais leve possibilidade de o Congresso votar tal absurdo. Basta de aumento de impostos num país onde já se paga uma carga tributária de 36% do PIB.

    Aguarda-se um projeto de nação para o Brasil. Como disse Euclydes da Cunha: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte". Hoje, somos todos nordestinos.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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