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    Marta Suplicy

    Até quando?

    16/10/2015 02h00

    Passei o feriado em São Paulo: conversei com empresários e nos outros dias estive em pontos distantes, na zona norte da cidade. É para não dormir! Se por um lado alguns empacotam as empresas para ir para o Paraguai, já não vendo futuro nos seus negócios no Brasil, os pobres que visitei estão tão miseráveis como eram há 15 anos.

    Crianças morando ao lado de córrego que carrega cachorro morto, cheiro nauseabundo, detritos por todos lados.

    Cubículos de 3x2, num deles uma menina de uns 14 anos, grávida, tomava conta de seis crianças: ou ficavam neste quartinho sem janela ou na beira do córrego. Um agravamento gigantesco da situação que conheci tendo sido ocupada área ambiental da Cantareira.

    Tristeza por perceber que aquelas famílias, de pais migrantes, eram a segunda geração nascida paulistana na miséria. Nas mesmas condições terríveis, com a mesma falta de oportunidade e vida sub-humana.

    Fui ao CEU da Paz, construído onde antes se fazia "desova" de corpos. Estava fechado: era feriado, calorão, Dia das Crianças. Incompreensível! A estrutura inteira precisando visivelmente de manutenção, mas as piscinas azulzinhas. Só não dava para entender por que tudo fechado. As crianças que havia acabado de visitar teriam tido uma tarde formidável só por estar num lugar sem mau cheiro. A vizinhança olhava o paraíso perdido.

    Tudo o que vi e senti nestes três dias e avaliando o nosso país e seu amanhã, penso: ainda não chegamos no final do poço.

    A falta de uma política industrial, uma legislação trabalhista superada, impostos exorbitantes, mão de obra pouco qualificada têm nos levado à constante perda de competitividade. Chegou a conta.

    Países como o Paraguai tentam diminuir sua pobreza e desemprego com menos impostos e atraem nossas indústrias com o tributo de 1% sobre serviços como eletricidade, água e telefone e custo de mão de obra para investidores. A importação de matéria prima tem isenção de impostos. Entra-se no Brasil pelo Mercosul, sem taxação. Várias das nossas empresas estão indo para lá.

    Quem joga a primeira pedra num momento no qual o Congresso ainda tem que se pronunciar sobre a terceirização e a questão da reoneração do setor têxtil dentre outros?

    O sucateamento da economia brasileira somente será superado se tivermos uma saída política que recupere a confiança da nação. Esta solução não passa por um governo que negocia a alma para se manter no poder e que já perdeu a credibilidade.

    Até a travessia desta vexaminosa situação política não teremos a estabilidade para traçar novos rumos e recuperar a esperança.

    marta suplicy

    Escreveu até julho de 2016

    É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).

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